Ayrton sempre foi uma pessoa
muito solitária. Era um jovem extremamente maduro e procurou a independência desde
muito novo. O campeão saiu da casa dos pais para tentar a sorte nas pistas com
apenas 18 anos de idade. A vida dele era o automobilismo, está que se consumia dentro
dos boxes de vários autódromos do mundo, em aviões de diversas companhias, em hotéis. Mas ao
conhecer Adriane Galisteu tudo mudou, a modelo mudou a vida dele para melhor.
Ayrton já não era tão obcecado pelo trabalho, ele passou a se dedicar muito a vida
pessoal, a Adriane. Então é natural naquela altura, aos 34 anos, plenamente feliz com
Adriane, o casal cheio de sonhos e planos, Ayrton sentir medo pela primeira
vez, não querer mais se arriscar. Agora o campeão tinha alguém que o esperava todos os dias, “não era mais
um lobo solitário”, conforme os jornalistas italianos diziam ao comentar sobre
sua mudança ao conhecer Adriane. Senna esteve a ponto de desistir de correr em Ímola,
algo impensável em tempos anteriores, quando ele se dedicava de corpo e alma a essa profissão tão perigosa, principalmente naquela época. Ayrton realmente estava mudado.
Adriane acredita que Senna sentiu medo em Ímola. Eu acredito também nisso, pois Adriane conhecia Ayrton profundamente e amigos como o banqueiro Braga e o jornalista Celso Etiberê que acompanharam Senna em suas últimas horas de vida, revelaram que o piloto não queria correr em Ímola. Adriane estava o esperando na casa deles no Algarve, em Portugal, onde começariam uma nova vida.
Adriane acredita que Senna sentiu medo em Ímola. Eu acredito também nisso, pois Adriane conhecia Ayrton profundamente e amigos como o banqueiro Braga e o jornalista Celso Etiberê que acompanharam Senna em suas últimas horas de vida, revelaram que o piloto não queria correr em Ímola. Adriane estava o esperando na casa deles no Algarve, em Portugal, onde começariam uma nova vida.
Trecho extraído do livro "Caminho das Borboletas" de Adriane Galisteu:
Mas, que a Zaza (apelido da mãe de Ayrton) me permita,
eu conhecia seu filho e sabia quando é que ele tinha seus momentos de oração.
Aquela cena que a tevê mostrou, pouco antes do desastre, não foi um deles. Béco
rezava em casa, à noite, longe das pessoas - era dono de uma fé recatada e
íntima, não fazia o estardalhaço de um militante de púlpito.
Para mim, naquela hora de rosto
tenso e mãos cravadas no carro, ele apenas pensava. Pela primeira vez na sua
carreira de piloto vitorioso, para quem o triunfo vinha primeiro que tudo,
sentiu a fragilidade da máquina e a fragilidade do ser humano. Um homem tinha
morrido à sua frente. Um amigo se estourara contra um muro. Até então, o piloto
Ayrton Senna sentava no carro e andava no limite.
De repente, outros
sentimentos tinham se intrometido na sua vida: susto, surpresa, medo. Medo -
que palavra cruelmente realista! Em tantos meses de conhecimento íntimo e
profundo, nunca o vi demonstrar qualquer coisa parecida. Ele passou por
situações incríveis, bem diante do meu nariz. Nunca se inquietou. Ao contrário,
buscava o perigo. Mas eu falo agora com a sinceridade de quem ouviu,
sentiu, viu - e de quem não tem nenhum compromisso a não ser com aquilo em que
verdadeiramente acredita. Hoje, assisto de camarote aos que tentam dar a suas
próprias mentiras um ar piedoso, quase religioso. Teorias e mais teorias, todas
atribuindo a Ayrton coisas que detestava fazer e negando-lhe aquilo que
mais buscava, ou seja, a liberdade.
Ímola era a prova de fogo
dele. O tudo-ou-nada da temporada 1994. Ele sabia que tinha de ultrapassar
todos os limites, a começar pelos de sua máquina frágil e difícil de dominar. A
minha verdade é a de que se viu, enfim, como uma criatura de carne e osso. Os
super-heróis não têm medo. As pessoas têm. No dia em que Ayrton Senna
pôde experimentar o mais humano dos sentimentos, no dia em que ele
definitivamente se completou como ser, a insanidade dos mercadores do perigo
veio golpeá-lo na cabeça. Meu Béco, amado e inesquecível, pagou com a vida a
escolha de ser aquilo que ele era.
FONTE PESQUISADA
GALISTEU, Adriane. Caminho das Borboletas. Edição 1. São Paulo: Editora Caras S.A.,
novembro de 1994.
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