Revista F1 Racing :
Imola 20 Anos depois. Com
exclusividade para o mundo: A ultima entrevista de Ayrton Senna
A historia não contada
naquele trágico fim de semana
Porque Senna importa mais do
que nunca?!
Richard Williams revela o
legado do genial piloto apos brutal acidente.
Senna para sempre!
A última entrevista. Pouco
antes do horário do almoço no domingo 1 de Maio
o diretor comercial da
Williams Richard West, conduziu mais uma das rotineiras entrevistas com
pilotos, incluindo Ayrton Senna, para o Clube Vips. Essa teria sido a
última vez que Ayrton falou em público. 20 anos depois Richard divide essa entrevista
e nos conta suas pessoais recordações sobre o tempo que passou com Senna,
que se encaminhava para aquele trágico fim de semana em Imola
Pura velocidade a tona, Senna
foi um dos maiores, mas foi sua complexa personalidade
de piloto, ambas que
marcaram e fascinaram Seu domínio no esporte.
Nos selecionamos 20 momentos
brilhantes de sua carreira que o transformaram em uma lenda.
20 Grandes momentos!
E contaremos detalhes de sua
ultima entrevista!
1 de Maio de 1994
Rothmans/Williams Paddock Club Imola
Richard West (falando para
convidados): "A corrida inicia apenas as 2:00 hs da tarde. Eu estou certo
que vocês vão assistir o warm up essa manha. Será muito encorajador. A única
coisa que não é encorajadora é claro, é que nos não sabemos o que as
outras equipes estão fazendo, mas Schummacher esta de volta em décimo primeiro
lugar. O plano agora esta manhã é que os pilotos vão ter o briefing obrigatório
as 11:00 hs da manhã. Eles tem ido ao encontro dos administradores, dos
funcionários do autódromo, dos funcionários do setor de segurança e área medica
(safety), dos médicos. Trata-se de uma reunião fechada, aonde os pilotos sentam
por 10, 15 minutos e falam sobre aspectos de segurança na pista,
cada ponto é particularmente
relevante na visão do infortúnio do acidente que aconteceu ontem. Mas uma nota
positiva, nos tivemos um bom warm-up esta manha. É muito difícil saber
quando Ayrton Senna vai estar completamente feliz, mas Damon diz estar muito
feliz com carro. Ayrton ainda esta falando com engenheiros agora e
provavelmente vai continuar a fazer isso ate um minuto antes da largada. (Nesse
momento Ayrton e Damon adentram a sala sendo aplaudidos pelos convidados). Ayrton
você é o pole position de novo cara em sua brilhante carreira! Eu gostaria de
pedir a você para explicar para os convidados hoje aqui
sobre o tipo de condições e
velocidade que você experimentou e algumas das áreas do circuito que talvez
tenham sido interessantes (um grande mapa do circuito é fornecido para os
pilotos escreverem).
Ayrton Senna olha o seu
relógio de pulso, era pouco antes do meio-dia. "Ok, ainda posso dizer Bom
dia! Imola é para nós pilotos um circuito muito rápido, muito exigente pois a
velocidade que atingimos aqui é muito alta e requer muita atenção e
concentração na maior parte do tempo controlando a maquina. De
qualquer forma é o lugar onde podemos alcançar o máximo de velocidade aqui (Ele
marcou um x no mapa antes da Curva Villeneuve), aonde eu acho que atingimos
325/330 km por hora. Nós temos um grande número de pontos de freada e
é onde o circuito tem a maior velocidade na maior parte desses lugares, então
você tem que parar bastante o carro, requerendo muita força nas freadas. É
também um circuito onde a força G em nosso corpo e pescoço são muito
altas, como quando estamos fazendo esta curva (Tamburello) em 290 km por
hora e é uma longa curva e seu pescoço vai, vai, vai.... A mesma coisa
aqui (Piratella), a mesma coisa, mas com um pouco menos de força G.
Sendo um circuito veloz, a
media de velocidade é alta e por isso a distância da corrida em termos de tempo
é bem curta. Do que em muitos circuitos. Então a corrida não é tão
longa como em muitos circuitos. Esse é um circuito que eu aprecio guiar,
eu tenho me saído bem aqui no passado. Eu venci algumas corridas aqui e o
público aqui na Itália é especial, especial pela atmosfera da Ferrari e pela
Fórmula 1.
Eu espero que a corrida seja
excitante para o público e seja boa para nossa equipe, para mim, Damon e Para
todo o time Williams. Então eu acho realmente que a equipe precisa de um bom
resultado para basicamente conseguir o campeonato esse ano, para ambos,
Damon e eu.
Então agora vou passar a
palestra para o Damon, que vai completar essa etapa, mas com um inglês melhor."
(Convidados riram do
comentário do Ayrton e aplaudiram. Fotos foram tiradas e Damon continuou
falando sobre Imola)
Richard West: "Antes de
você ir Ayrton, eu poderia lhe fazer mais uma pergunta?
Com o reabastecimento esse
ano, nós temos visto uma excitação maior
nas corridas. Da sua
perspectiva você esta numa comunicação regular antes e durante as corridas,
qual informação você recebe da equipe no seu rádio para abastecer e trocar
pneus?
Senna (sorrindo): "Bem,
nós não temos tido muitas chances de fazer esse exercício esse ano.
Então tudo o que posso dizer
foi que no Brasil havia o pânico comum de "Eu estou vindo, estou
vindo, estou vindo". E eles apenas reconheceram e disseram no
rádio "ok ok".
Não havia nenhum problema
particular mas foi apenas uma confirmação. Eu estava no caminho do pit stop e
equipe disse que poderia vir e foi isso. Mas nós planejamos tudo
de antemão e a equipe está
pronta lá, esperando pela gente nos pits. Então tem sido bom e eu penso
que o principal circuito que vai ser mais difícil por razões de segurança será
Monte Carlo, por ter um pit-lane muito apertado e com muita gente nele. Essa
corrida esta se aproximando e será muito, muito perigoso. Então nós apenas
falamos hoje sobre isso e estamos pensando sobre pedir aos dirigentes da FIA
para introduzir um limite de velocidade para o pitlane do próximo GP
, em Monte Carlo.
Apenas para tentar e talvez
minimizar riscos.
" Richard West:
"Bem, eu acho que nos
devemos deixar vocês irem. Vocês podem autografar o mapa do circuito, por
favor. Uma salva de palmas para Ayrton Senna e Damon Hill. (Eles autografaram o
mapa do circuito e deixaram o paddock club).
O autografo que ele deu,
simplesmente o último de sua vida, foi apenas perto da curva Tamburello.
As luzes da sala se apagaram,
eu caminhei para saída do local e Ayrton estava la em silêncio.
Como eu me desculpei ele
disse: "Não se preocupe, eu apenas estou organizando meus pensamentos"
Ele adicionou: "Como vai
você?" Parece uma pergunta incomum para ele, tão perto da corrida começar,
então continuou perguntando: "Quantos anos você tem?" Quando eu
respondi que tinha 37, ele brincou: "Que merda cara, você parece
velho!"
E eu brinquei que se eu
parecia velho era porque tinha percorrido o mundo inteiro para encontrar
patrocínios, fazer dinheiro, para pagar salário dele.
Nós dois gargalhamos, então
depois de uma pausa eu pedi licença para me afastar.
"Você não quer falar
comigo então?"
Novamente ele me disse uma
coisa incomum. Mas era em torno de 1 hora da tarde e em breve seria hora dele
entrar no carro. Então eu simplesmente sorri e segui meu caminho. A
última vez que o vi, já estava sentado em seu carro antes do grid. O local
já estava sendo evacuado para inicio da largada. Após o primeiro acidente
na largada eu estava esperando a corrida receber bandeira vermelha mas o
safety car veio, entrou e saiu da pista.
Na volta 7 houve uma grande
colisão na Tamburello.
Eu lembro que pensei:
"Merda, isso foi um grande acidente" e então avistei o capacete
amarelo.
Havia um estupendo silêncio na
garagem e nos começamos a assistir pelo monitor o desenrolar dos
acontecimentos. Nós vimos a cabeça do Ayrton mexendo lentamente e eu pensei,
por uma fraçao de segundos "Talvez ele esteja desacordado". Então os
fiscais de prova passavam de um lado para o outro. Foi nesse momento
que vi que as coisas iam mal. Eu disse ao Frank que eu precisava ir ver o
que estava acontecendo. O centro médico estava um caos, um pandemônio.
Eu não poderia fazer nenhuma
pergunta. Por todo o ponto que ele ainda estava na pista. Então eu lembro
do helicóptero o resgatando e a corrida reiniciando.
Eu fui ver Bernie Ecclestone. Eu
bati na porta do ônibus dele e me sentei. Eu estava aborrecido. Ele me disse
para lhe dar alguns minutos e ele não falou.
Então ele disse. "Você
esta bem? Volte para sua garagem, recupere a calma e faça o que precisa
fazer" Em poucas experiências que tive com Bernie sob pressão,
ele estava muito calmo.
Ele apenas me deu espaço para
respirar. A corrida havia sido recomeçado e faltando 15 minutos para o
final recebi uma ligaçao de Sid Watkins. Ele me disse que Ayrton estava
respirando, mas exames comprovavam que nao haviam atividades cerebrais. Não
havia volta.
As próximas horas passaram
como um borrão, mas me lembro de ter deixado o circuito
de helicóptero com Bernie,
Patrick Head e Adrian Newey. Como nós deixamos o Rivazza , do alto via-se que a
multidão tinha deixado vestígios e cartazes gigantes com o nome
"SENNA" , alem do rio.
Eu não dormi aquela noite e
fui para fábrica da Williams às 6:00 da manhã do dia seguinte.
Já havia muita mídia e fãs
ingleses deixando flores no portão da fábrica, inclusive um casal de fãs que
havia guiado de Devon por toda noite para estar lá.
Não havia uma pessoa naquela
fabrica na Inglaterra que não tivesse devastada.
Foi um choque enorme, mas
todo mundo agiu de forma extremamente profissional.
Essas situações mudam a sua
visão sobre o que é importante na vida. É inacreditável pensar que não importa
o quão bom, forte e talentoso você seja, tudo isso pode ser tirado de você
apenas assim. Você pode perder tudo numa fração de segundo. Eu voei para São
Paulo na noite de terça-feira para o funeral. O que me impactou a mente foi ver
a quantidade de pessoas nas ruas.
Levamos horas para
conseguirmos seguir do aeroporto para hotel. O corpo de Ayrton havia chegado na
manhã de quarta feira, naquela manhã e estava sendo acompanhado por uma
multidão para prestar seus respeitos por ele.
Na manhã seguinte, foi o
cortejo do funeral, por esse tempo o número de pessoas que eu havia visto na
rua não era nada comparado ao que eu tinha visto no dia anterior.
Foi muito respeitoso, foi
muito emotivo, eu vi milhões, não estou exagerando, milhões de pessoas.
Eu, Frank e sua enfermeira
particular seguimos o cortejo para o cemitério.
20 Anos depois e Ayrton faz
muita falta. E eu apesar de ter deixado Williams alguns anos, sei que eles
ainda tem um vínculo de reverência por ele na equipe.
Ele faz parte da história da
empresa e legado. Os que foram sortudos o bastante para trabalhar com ele
naquele curto período de tempo experimentaram algo muito
especial
e eu tenho reiterado o que o
chefe da equipe Ian Harrison disse: "
A equipe realmente nunca
conseguiu conhece-lo bem o bastante.
Isso é uma vergonha para nós
pois além dele ter sido o piloto mais maravilhoso, ele era um ser humano
maravilhoso também.
Então, seja la quem tiver me
enviado essas imagens em vídeo anos atras. Obrigado."
(Por: Richard West para o
repórter James Robert.
Revista F1 Racing Magazine)
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