quarta-feira, 10 de agosto de 2016

A Última Entrevista de Ayrton Senna



Revista F1 Racing :
Imola 20 Anos depois. Com exclusividade para o mundo: A ultima entrevista de Ayrton Senna
A historia não contada naquele trágico fim de semana
Porque Senna importa mais do que nunca?!
Richard Williams revela o legado do genial piloto apos brutal acidente.
Senna para sempre!

A última entrevista. Pouco antes do horário do almoço no domingo 1 de Maio
o diretor comercial da Williams Richard West, conduziu mais uma das rotineiras entrevistas com pilotos, incluindo Ayrton Senna, para o Clube Vips. Essa teria sido a última vez que Ayrton falou em público. 20 anos depois Richard divide essa entrevista e nos conta suas pessoais recordações sobre o tempo que passou com Senna, que se encaminhava para aquele trágico fim de semana em Imola

Pura velocidade a tona, Senna foi um dos maiores, mas foi sua complexa personalidade
de piloto, ambas que marcaram e fascinaram Seu domínio no esporte.
Nos selecionamos 20 momentos brilhantes de sua carreira que o transformaram em uma lenda.

20 Grandes momentos!
E contaremos detalhes de sua ultima entrevista!

1 de Maio de 1994 Rothmans/Williams Paddock Club Imola

Richard West (falando para convidados): "A corrida inicia apenas as 2:00 hs da tarde. Eu estou certo que vocês vão assistir o warm up essa manha. Será muito encorajador. A única coisa que não é encorajadora é claro, é que nos não sabemos o que as outras equipes estão fazendo, mas Schummacher esta de volta em décimo primeiro lugar. O plano agora esta manhã é que os pilotos vão ter o briefing obrigatório as 11:00 hs da manhã. Eles tem ido ao encontro dos administradores, dos funcionários do autódromo, dos funcionários do setor de segurança e área medica (safety), dos médicos. Trata-se de uma reunião fechada, aonde os pilotos sentam por 10, 15 minutos e falam sobre aspectos de segurança na pista,
cada ponto é particularmente relevante na visão do infortúnio do acidente que aconteceu ontem. Mas uma nota positiva, nos tivemos um bom warm-up esta manha. É muito difícil saber quando Ayrton Senna vai estar completamente feliz, mas Damon diz estar muito feliz com carro. Ayrton ainda esta falando com engenheiros agora e provavelmente vai continuar a fazer isso ate um minuto antes da largada. (Nesse momento Ayrton e Damon adentram a sala sendo aplaudidos pelos convidados). Ayrton você é o pole position de novo cara em sua brilhante carreira! Eu gostaria de pedir a você para explicar para os convidados hoje aqui
sobre o tipo de condições e velocidade que você experimentou e algumas das áreas do circuito que talvez tenham sido interessantes (um grande mapa do circuito é fornecido para os pilotos escreverem).
Ayrton Senna olha o seu relógio de pulso, era pouco antes do meio-dia. "Ok, ainda posso dizer Bom dia! Imola é para nós pilotos um circuito muito rápido, muito exigente pois a velocidade que atingimos aqui é muito alta e requer muita atenção e concentração na maior parte do tempo controlando a maquina. De qualquer forma é o lugar onde podemos alcançar o máximo de velocidade aqui (Ele marcou um x no mapa antes da Curva Villeneuve), aonde eu acho que atingimos 325/330 km por hora. Nós temos um grande número de pontos de freada e é onde o circuito tem a maior velocidade na maior parte desses lugares, então você tem que parar bastante o carro, requerendo muita força nas freadas. É também um circuito onde a força G em nosso corpo e pescoço são muito altas, como quando estamos fazendo esta curva (Tamburello) em 290 km por hora e é uma longa curva e seu pescoço vai, vai, vai.... A mesma coisa aqui (Piratella), a mesma coisa, mas com um pouco menos de força G.
Sendo um circuito veloz, a media de velocidade é alta e por isso a distância da corrida em termos de tempo é bem curta. Do que em muitos circuitos. Então a corrida não é tão longa como em muitos circuitos. Esse é um circuito que eu aprecio guiar, eu tenho me saído bem aqui no passado. Eu venci algumas corridas aqui e o público aqui na Itália é especial, especial pela atmosfera da Ferrari e pela Fórmula 1.
Eu espero que a corrida seja excitante para o público e seja boa para nossa equipe, para mim, Damon e Para todo o time Williams. Então eu acho realmente que a equipe precisa de um bom resultado para basicamente conseguir o campeonato esse ano, para ambos, Damon e eu.
Então agora vou passar a palestra para o Damon, que vai completar essa etapa, mas com um inglês melhor."
(Convidados riram do comentário do Ayrton e aplaudiram. Fotos foram tiradas e Damon continuou falando sobre Imola)
Richard West: "Antes de você ir Ayrton, eu poderia lhe fazer mais uma pergunta?
Com o reabastecimento esse ano, nós temos visto uma excitação maior
nas corridas. Da sua perspectiva você esta numa comunicação regular antes e durante as corridas, qual informação você recebe da equipe no seu rádio para abastecer e trocar pneus?
Senna (sorrindo): "Bem, nós não temos tido muitas chances de fazer esse exercício esse ano.
Então tudo o que posso dizer foi que no Brasil havia o pânico comum de "Eu estou vindo, estou vindo, estou vindo". E eles apenas reconheceram e disseram no rádio  "ok ok".
Não havia nenhum problema particular mas foi apenas uma confirmação. Eu estava no caminho do pit stop e equipe disse que poderia vir e foi isso. Mas nós planejamos tudo
de antemão e a equipe está pronta lá, esperando pela gente nos pits. Então tem sido bom e eu penso que o principal circuito que vai ser mais difícil por razões de segurança será Monte Carlo, por ter um pit-lane muito apertado e com muita gente nele. Essa corrida esta se aproximando e será muito, muito perigoso. Então nós apenas falamos hoje sobre isso e estamos pensando sobre pedir aos dirigentes da FIA para introduzir um limite de velocidade  para o pitlane do próximo GP , em Monte Carlo.
Apenas para tentar e talvez minimizar riscos.
" Richard West:
"Bem, eu acho que nos devemos deixar vocês irem. Vocês podem autografar o mapa do circuito, por favor. Uma salva de palmas para Ayrton Senna e Damon Hill. (Eles autografaram o mapa do circuito e deixaram o paddock club).
O autografo que ele deu, simplesmente o último de sua vida, foi apenas perto da curva Tamburello.
As luzes da sala se apagaram, eu caminhei para saída do local e Ayrton estava la em silêncio.
Como eu me desculpei ele disse: "Não se preocupe, eu apenas estou organizando meus pensamentos"
Ele adicionou: "Como vai você?" Parece uma pergunta incomum para ele, tão perto da corrida começar, então continuou perguntando: "Quantos anos você tem?" Quando eu respondi que tinha 37, ele brincou: "Que merda cara, você parece velho!"
E eu brinquei que se eu parecia velho era porque tinha percorrido o mundo inteiro para encontrar patrocínios, fazer dinheiro, para pagar salário dele.
Nós dois gargalhamos, então depois de uma pausa eu pedi licença para me afastar.
"Você não quer falar comigo então?"
Novamente ele me disse uma coisa incomum. Mas era em torno de 1 hora da tarde e em breve seria hora dele entrar no carro. Então eu simplesmente sorri e segui meu caminho. A última vez que o vi, já estava sentado em seu carro antes do grid. O local já estava sendo evacuado para inicio da largada. Após o primeiro acidente na largada eu estava esperando a corrida receber bandeira vermelha mas o safety car veio, entrou e saiu da pista.
Na volta 7 houve uma grande colisão na Tamburello.
Eu lembro que pensei: "Merda, isso foi um grande acidente" e então avistei o capacete amarelo.
Havia um estupendo silêncio na garagem e nos começamos a assistir pelo monitor o desenrolar dos acontecimentos. Nós vimos a cabeça do Ayrton mexendo lentamente e eu pensei, por uma fraçao de segundos "Talvez ele esteja desacordado". Então os fiscais de prova passavam de um lado para o outro. Foi nesse momento que vi que as coisas iam mal. Eu disse ao Frank que eu precisava ir ver o que estava acontecendo. O centro médico estava um caos, um pandemônio.
Eu não poderia fazer nenhuma pergunta. Por todo o ponto que ele ainda estava na pista. Então eu lembro do helicóptero o resgatando e a corrida reiniciando.
Eu fui ver Bernie Ecclestone. Eu bati na porta do ônibus dele e me sentei. Eu estava aborrecido. Ele me disse para lhe dar alguns minutos e ele não falou.
Então ele disse. "Você esta bem? Volte para sua garagem, recupere a calma e faça o que precisa fazer" Em poucas experiências que tive com Bernie sob pressão, ele estava muito calmo.
Ele apenas me deu espaço para respirar. A corrida havia sido recomeçado e faltando 15 minutos para o final recebi uma ligaçao de Sid Watkins. Ele me disse que Ayrton estava respirando, mas exames comprovavam que nao haviam atividades cerebrais. Não havia volta.
As próximas horas passaram como um borrão, mas me lembro de ter deixado o circuito
de helicóptero com Bernie, Patrick Head e Adrian Newey. Como nós deixamos o Rivazza , do alto via-se que a multidão tinha deixado vestígios e cartazes gigantes com o nome "SENNA" , alem do rio.
Eu não dormi aquela noite e fui para fábrica da Williams às 6:00 da manhã do dia seguinte.
Já havia muita mídia e fãs ingleses deixando flores no portão da fábrica, inclusive um casal de fãs que havia guiado de Devon por toda noite para estar lá.
Não havia uma pessoa naquela fabrica na Inglaterra que não tivesse devastada.
Foi um choque enorme, mas todo mundo agiu de forma extremamente profissional.

Essas situações mudam a sua visão sobre o que é importante na vida. É inacreditável pensar que não importa o quão bom, forte e talentoso você seja, tudo isso pode ser tirado de você apenas assim. Você pode perder tudo numa fração de segundo. Eu voei para São Paulo na noite de terça-feira para o funeral. O que me impactou a mente foi ver a quantidade de pessoas nas ruas.
Levamos horas para conseguirmos seguir do aeroporto para hotel. O corpo de Ayrton havia chegado na manhã de quarta feira, naquela manhã e estava sendo acompanhado por uma multidão para prestar seus respeitos por ele.
Na manhã seguinte, foi o cortejo do funeral, por esse tempo o número de pessoas que eu havia visto na rua não era nada comparado ao que eu tinha visto no dia anterior.
Foi muito respeitoso, foi muito emotivo, eu vi milhões, não estou exagerando, milhões de pessoas.
Eu, Frank e sua enfermeira particular seguimos o cortejo para o cemitério.
20 Anos depois e Ayrton faz muita falta. E eu apesar de ter deixado Williams alguns anos, sei que eles ainda tem um vínculo de reverência por ele na equipe.
Ele faz parte da história da empresa e legado. Os que foram sortudos o bastante para trabalhar com ele naquele curto período de tempo experimentaram algo muito especial
e eu tenho reiterado o que o chefe da equipe Ian Harrison disse: "
A equipe realmente nunca conseguiu conhece-lo bem o bastante.
Isso é uma vergonha para nós pois além dele ter sido o piloto mais maravilhoso, ele era um ser humano maravilhoso também.
Então, seja la quem tiver me enviado essas imagens em vídeo anos atras. Obrigado."
(Por: Richard West para o repórter James Robert.
Revista F1 Racing Magazine)


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