O Tempo, 01 de maio de 2014
Por Ana Paula Moreira
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Trechos extraídos do livro "Ayrton Senna, o herói revelado" (autor: Ernesto Rodrigues)
Antes da casa do Algarve, na
opinião de Linamara (Batistella, médica e amiga de Ayrton Senna), Senna não se dera "nem o direito de ter um endereço
em São Paulo que não fosse o dos pais":
"Até comprou o
apartamento nos Jardins. Mas lembro que ele dizia: não quero que saibam que eu
tenho esse apartamento.”
Para Nelson (da Silva Loureiro, piloto do helicóptero e jato de Ayrton Senna), um dos que
perceberam o mal-estar na família deflagrado pelo namoro, a atitude de Milton
da Silva era a de "um pai diante de um filho que fez escolhas de vida
diferentes das que ele imaginava e queria". De acordo com ele, no final de
1993, as brigas haviam chegado a um ponto em que ele ouviu Ayrton flertar com
uma alternativa inimaginável para quem conhecia sua profunda dependência
emocional em relação ao Brasil, Tatuí e, principalmente, Angra dos Reis:
- Estou pensando até em não
vir para o Brasil e ficar lá em Portugal com a Adriane.
Ayrton Senna dias antes de
falecer em sua mansão do Algarve
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Trechos extraídos do livro "Caminho das Borboletas" de Adriane Galisteu
- Ai, que bom! Ele vai voltar
mais cedo para casa. Foi um relâmpago na minha cabeça - um pensamento egoísta,
com certeza estúpido, talvez inconseqüente. Mas, por um segundo, tive este
flash de esperança: ele arrancaria luvas e capacete, sairia do carro carregando
aquela cara de garoto ofendido tão familiar por ocasião das derrotas, se
recomporia, fugiria às carreiras do autódromo e das entrevistas, já encontraria
o comandante Mahonney esperando por ele no aeroporto, com a turbina ligada, e
em questão de horas estaria se jogando nos meus braços, em outro país, em nossa
casa, no Algarve, em Portugal.
Em
Portugal, vivemos na casa do Algarve.
Era sábado, 31 de abril de
1994. Tinha chegado à quinta da Luiza e do Braga em Sintra pouco depois do
almoço. Nem me incomodei de desfazer as malas, porque meu destino era o
Algarve. Naquela mesma noite, pegaria um avião para Faro e iria para a nossa
casa do Condomínio da Quinta do Lago. Era uma bagagem e tanto. A idéia era
essa: acompanhar com ele todos os cinco meses da temporada européia. Do GP de
San Marino, aquele 1° de maio, até o GP de Portugal, 25 de setembro. Primavera
e verão - de mais a mais, a casa do Algarve estava reformadinha, uma lindeza,
havia aquele céu azul do Mediterrâneo contrastando com as paredes caiadas de
branco e, quando era hora de trabalhar, bastava convocar o comandante Mahonney,
um inglês engraçadíssimo, tirar o avião do hangar e nos deslocarmos para o
local da próxima corrida.
Eu sonhava com a hora de
envolvê-lo nos meus braços na noite de domingo, em nossa casa - depois da prova
de Ímola. Cinco meses de ensolarada lua-de-mel. Na nossa relação, toques,
olhares, expressões, até mesmo o silêncio sempre foram muito mais valiosos do
que palavras. Mas que era isso mesmo que nos esperava, cinco meses de
efervescente amor, era. Eu mal podia esperar.
Menos de uma semana atrás, eu
tinha ido a Portugal, carregada de planos e de felicidade, para me encontrar
com ele. Agora, voltava a São Paulo para enterrá-lo. Será um exagero dizer que
foi a mais longa, a mais angustiante, a pior viagem de minha vida?
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FONTES PESQUISADAS
MOREIRA, Ana Paula. Os amores de Ayrton
Senna. O Tempo, 01 de maio de 2014, Especial, página 6.
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