quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Crítica "Ayrton Senna, O Musical" Por F1 da Depressão

Moderador da fanpage "F1 da Depressão" mostrando o ingresso, ao fundo um anuncio do musical com a dupla imagem: Ayrton Senna jovem, antes da Fórmula 1, e já consagrado como um ídolo nacional

Salve, amigos do F1DP!
Conforme vocês viram no sábado, fomos conferir o espetáculo “Ayrton Senna, o Musical”, em cartaz no Teatro Riachuelo (RJ).
Segue abaixo as nossas considerações e vamos tentar não dar spoilers :P
Fiquem à vontade para fazer perguntas nos comentários, tudo bem?

1- Antes de tudo, o diretor foi muito ousado ao fazer um musical cujo tema é uma pessoa que nunca teve algo relacionado à música. Se os britânicos fizessem um musical sobre Damon Hill/Lewis Hamilton, assim como se tivesse um musical sobre Eddie Jordan na Irlanda ou sobre Jacques Villeneuve no Canadá, seria compreensível. Afinal de contas, essas quatro pessoas tem uma certa ligação com a música. Agora, Ayrton Senna? Nem o Tema da Vitória foi feito pra ele!! É louvável a tentativa do diretor. Nesse ponto, temos que reconhecer e bater palmas.

2- O público presente era bem diverso. Crianças, jovens, adultos e idosos. Casais, famílias e grupos de amigos. A pequena exposição (gratuita) que tem na entrada do Teatro Riachuelo ajuda a causar uma certa ‘ansiedade’ no público.

3- Antes de tudo, é bom lembrar que, em momento algum do musical, Ayrton é tratado como ‘deus’ ou como alguém que possui ‘poderes extraordinários/sobre-humanos’. Muito pelo contrário: mostra uma pessoa cheia de defeitos como qualquer outra, além das características ruins que sempre saem nas biografias do piloto. A peça mostra também o quanto Ayrton muda a vida das pessoas que estiveram ao lado dele, algo meio que óbvio, tendo em vista que todos nós mudamos a vida das pessoas que estão ao nosso redor.

4- O início da narrativa começa justamente no sábado do GP de San Marino de 1994, após os acidentes de Barrichello e Ratzemberger, quando Ayrton está na dúvida se participará deste Grande Prêmio.
5- Depois, a peça se divide em duas histórias que correm de forma simultânea: uma delas fictícia (inspirada no período que Ayrton retorna da Inglaterra após ficar sem patrocinadores) e não-linear baseada em fatos reais (período que Ayrton corria pela McLaren)

6- A parte fictícia possui, de longe, os melhores diálogos e as melhores cenas da peça. É a parte que cativa o público. Mostra um Ayrton desanimado com a vida por trabalhar na loja de construções do pai e como que ele muda a vida de alguém que estava perdido no mundo. A impressão que passa é que a plateia sempre espera por esta parte de tão boa que é.

7- A parte baseada em fatos reais, infelizmente, falha justamente por não ser uma história linear. Ela é mais voltada em conversas de Ayrton com um engenheiro de equipe no tempo que ele corria na McLaren (neste momento, há divergência se ele é mesmo um engenheiro ou se é uma ‘outra pessoa’ – suspense para quem for assistir). Por muitas vezes, a narrativa mescla eventos de forma desnecessária, ao ponto de me sentir na obrigação de explicar para quem foi comigo que histórias eram aquelas. São detalhes que ajudam na compreensão das músicas e dos diálogos. No fim da peça, quem esteve comigo (minha mãe e irmã, que não entendem nada de automobilismo) comentou que as explicações fizeram total diferença para o entendimento da peça.

8- Aliás, este é um problema bem peculiar: parece que, para entender a peça por completo, o espectador teria que ter um ‘conhecimento prévio’ da vida de Ayrton e é nesse ponto que a ousadia complica o diretor. O público em geral (que assistia F1 até 1994), pode ficar confuso pelos detalhes que não são explicados. Quem é fã de automobilismo, vai sentir falta de muitas fases importantes na carreira de Ayrton. Quem é crítico de automobilismo, certamente vai cornetar as falhas na biografia do piloto. Quem é crítico de teatro, algumas composições fatalmente não agradarão.

9- Sobre as composições musicais, item que tem causado muita polêmica nas redes sociais: de fato, algumas canções tem letras bem pobres. São quinze canções de autoria própria e, em algumas delas, dá pra perceber que não houve um certo capricho na formulação das rimas. Outras canções você tem que ter conhecimento prévio para entender a letra, como o caso da canção “Noivas do Tempo”, que fala sobre os três relacionamentos mais marcantes da vida de Ayrton. É tudo muito subjetivo, já que não se pode citar os nomes de Lílian, Xuxa e Galisteu na peça.

10- Ainda sobre as composições musicais: a canção “Meu Rival” é ruim. Ruim demais. Não, a canção é péssima. Absurdamente péssima. De fato, é a pior coisa que tem nesse musical e é a que deveria ter sido tratada com o maior carinho possível. Me faz lembrar o tempo que era do jardim de infância. Não dá pra ouvir “carinha de neném” e “te atropela feito um trem”, sinceramente. Entretanto, você meio que releva ao ver o desempenho absurdamente fantástico dos artistas envolvidos, além da conversa entre Ayrton e Prost no fim da canção. Agora, para se contrapor a “Meu Rival”, a canção “Medo” é, disparada, A MELHOR PARTE DA PEÇA. Abordando o medo que todo piloto de automobilismo tem ao entrar no cockpit, a canção se destaca do restante por possui uma letra muito bem trabalhada, uma atuação fantástica dos artistas, uma superprodução cenográfica e efeitos luminosos que prendem o público.

11- Por fim, os 24 artistas que participam da peça se empenham a todo instante e parece que a sintonia entre eles é algo que beira o absurdo. Parece uma mescla dos espetáculos de Deborah Colker com Cirque du Soleil. Simplesmente genial, do início ao fim. O lado curioso é que alguns dos artistas estão ‘uniformizados’ com macacões que lembram alguns pilotos que dividiram o grid com Ayrton (casos de Mansell, Schumacher e Piquet).

Se você for mesmo assistir “Ayrton Senna - O musical”, tenha isso em mente: vá de coração aberto. Não seja tão criterioso. Se você for acompanhado de quem não entende, é mais fácil você explicar o certo do que ficar reclamando o tempo todo. Assim você tornará o passeio mais agradável e vai proporcionar um bom debate após o musical.

Agora, se você está indeciso e o que te impede de ir é justamente os comentários negativos nas redes sociais (eu estou nesse grupo), a experiência é bastante válida. Certamente, você vai se surpreender. Não vá na expectativa que você assistirá um excelente musical, digno de Broadway, mas pode ter certeza que você vai assistir uma excelente homenagem a um dos melhores pilotos de automobilismo de todos os tempos.

Vale a pena assistir? Sim, sem dúvida alguma.

Fica como sugestão comprar os assentos das três primeiras fileiras do balcão (ingresso mais barato) para poder assistir a riqueza do cenário por completo.













FONTE PESQUISADA

F1 DA DEPRESSÃO FANPAGE - Salve, amigos do F1DP!. Disponível em: <https://www.facebook.com/F1daDepressao/posts/1546152765513251>. Acesso em: 01 de novembro 2017.

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