segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

"Ela é diferente das outras"

[EM CONSTRUÇÃO]



Lilian e depois Xuxa, e depois Cristine, antes de Adriane. Para cada uma das mulheres que estiveram perto dele, o pai [Milton da Silva] manifestou uma complexa intolerância. Mas sim, também terá sido a eterna preocupação de que alguém, quanto mais uma mulher, poderia aproveitar de um filho rico e famoso... Havia algo mais. A mesma firmeza que ele costumava  buscá-lo quando ele era criança assim que o ouvia fazer barulho no quintal. A mesma disposição para reprová-lo depois de vê-lo molhar de champanhe o Príncipe Ranieri, Carolina e Alberto, quando acabara de ganhar, pela primeira vez, o Grande Prêmio de Mônaco, em 1987. Um desgosto [para seu Milton] no meio de uma alegria.

Agora, Adriane. Mas agora é diferente. Ele agarra seu relógio [aperta em seu pulso], fecha seus olhos. A imagem de seu pai, furioso, ao mesmo tempo, é uma hipótese tão provável quanto possível. Calcula rapidamente a diferença de fuso horário entre a Itália e o Brasil. Milton está certamente na propriedade de Tatuí, sentado em sua cadeira, com a revista em suas mãos. «Caras», o nome da revista. Uma revista muito popular, de enorme difusão. Na capa está um título gigante sobre uma foto dele e Adriane: AYRTON SENNA FALA DE AMOR.

A reportagem ocupava doze páginas, tinha sido organizado e implementado ali mesmo, onde seu pai estava na época.

Ele tinha deixado o seu fotógrafo de confiança, o japonês Norio Koike, que tinha tomado uma série de imagens românticas do casal, antes, durante e depois da entrevista. A revista chegou nas bancas dois dias antes, no dia 29 de abril, e mostrou uma mensagem clara à família Senna, começando pelo patriarca.

Ele aprendeu a decifrar seu pai em detalhes, a reconhecer todos os mecanismos mentais, a prever todas as reações, os gestos de satisfação como os da intolerância. Ele os identifica e os fotografa agora, a uma distância, enquanto analisa mentalmente essas imagens na rotogravura. Ele percebeu que fez um movimento sem precedentes [algo inédito, que nunca havia acontecido antes], mesmo extremo, no meio do enésimo contraste gerado por sua relação com Adriane. Ele tinha conhecimento da sessão de fotos bem antes da publicação. O contra-movimento foi encenado algumas horas antes. A fita com as gravações dos telefonemas, trazido para lá sem qualquer respeito por um vínculo que não admitia tais intrusões, sem considerar o que aconteceu naquele dia, testemunhou uma determinação deliberada pelo pai. Leonardo [irmão do Ayrton] era um simples mensageiro, uma vítima também. Ele tinha realizado, incapaz de se opor a um comando. 

[Com certeza Leonardo teria sido obrigado de qualquer maneira pelo pai, mas não acredito que ele seja realmente inocente nessa história.]

Os estágios agrupados e perturbadores que levaram a essa ruptura [do respeito da família com ele] são uma série de instantâneos espalhados pela cama de casal da suíte. O relacionamento com Adriane continha algo surpreendente mesmo para ele. Enquanto isso, ele a convidara para a casa de Angra dos Reis, imediatamente, sem se preocupar em deixá-la entrar com facilidade sem precedentes em seu refúgio mais amado e protegido. E o motivo de um comportamento tão fora de seus próprios esquemas não é claro mesmo naquele momento.

De alguma forma, essa menina loira, muito animada e despreocupada, o deixou feliz. Isso ele experimentou, naturalmente tentando uma intimidade mútua durante sua estadia em Angra. [Ela] Parecia uma criança radiante, o entusiasmo que lhe oferecia o gratificava e, ao mesmo tempo, o acalmou. Ele estava em um estágio crítico em sua carreira, novamente crítico.

Adriane ... As origens eram simples, seus modos (maneiras) eram constrangedores e desajeitados perante um mundo que, até alguns dias antes, só havia observado a partir de uma distância intransponível. O fato de amar e ser amada por um homem tão importante tornou-se um jogo perigoso que às vezes a deslocava, causando momentos de constrangimento.


Ayrton poderia listar com ternura as tentativas de instruí-la melhor, pouco antes de um jantar importante ou de uma reunião especial. Ele lhe deu um carro, um Fiat Uno. O que fez o pai Milton ficar louco, e ele [Milton] percebeu que o relacionamento estava ficando sério. Afinal, bastava olhar para ela... era o suficiente para conhecê-la como de costume, para imaginar o quanto ela poderia alarmar os pais... Mesmo a fiel Juracy, que governou a casa no Algarve, observou-a com suspeita. Protetora como era a respeito de seu Béco, bem como Béco era protetor de Adriane.



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Juracy não queria vê-lo feliz não, é?

Vou te contar, viu? Essa governanta do Ayrton, Juracy, uma pessoa humilde também como Adriane, querendo proteger o patrão rico de casar com uma garota pobre que julgava ser aproveitadora. Devia ser bem entojada essa mulher, bajuladora da família do Ayrton, devia se sentir quase como um membro da família Senna.

Tem também aquele outro, o empresário do Ayrton, o executivo Julian Jakobi. Outro que queria proteger o patrão de Adriane, aliado também da família dele. E ainda o "gentil" Joseph Leberer. Três empregados pau-mandados da família do Ayrton. Pensavam que seu Milton/família estava no poder, mas não por muito tempo, Ayrton já tinha descoberto quem era o pai/família. Imaginem quando tudo isso fosse totalmente descoberto? Ia sobrar para os três aduladores também.



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FONTE PESQUISADA

TERRUZZI, Giorgio. Suite 200. L'ultima notte di Ayrton Senna. 1º Edição. Roma: 66th and 2nd, 2014.

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