Brunno Carvalho e Karla Torralba
Do UOL, em São Paulo
09/02/2018 04h00
Grid girls participam do GP Brasil de Fórmula 1 de
2017
Imagem: Mark Thompson/Getty Images
Suellen, Cíntia e Ada não estarão no Grande Prêmio
do Brasil de Fórmula 1 de 2018 (11 de novembro). Eram grid girls, posto
excluído da categoria recentemente. As três discutem e condenam o fim da
presença das modelos nas corridas. Para elas, o questionamento que fica para
ser respondido é: por que a mulher não pode estar ali porque gosta do esporte?
“A mulher está ali porque ela gosta. Não tem só que
ter homens nesse mundo. Seja como grid, piloto... Quem sabe um dia seja algo
que mescle mulheres e homens. A atitude acaba reforçando a ideia de que mulher
e carro não combinam. Não tem motivo para a mulher não participar de tudo seja
como piloto, mecânico ou grid girl”, ressalta Suellen Gomes, de 28 anos, que
participou dos últimos dois GPs do Brasil.
Para Cintia Ferretti, 26 anos, que foi grid girl por três anos, a exclusão das
modelos nas corridas reforça o preconceito que elas já viviam. “Nunca usamos
bunda de fora, ninguém é ficha rosa e puta. Com a onda de feminismo, eles acham
que estão desvalorizando a mulher, mas acho que as meninas estão lá porque
querem. Ninguém obrigou ninguém a estar lá dentro. A partir do momento que
tiram elas de lá, você está assumindo o que falam: que é errado”.
Ada Jaala, 28 anos, também foi grid girl por três
anos e aceitou o trabalho por gostar do esporte. “Estar ali no meio e o mundo
estar vendo é muito emoção. Eu já tive convite para outros trabalhos nos dias
do GP, mas escolhi a Fórmula 1, porque eu gosto muito”, comentou.
Cintia: Cachê 4 x maior e questionamento sobre ficha rosa
“Já ouvi várias vezes que fazia ficha rosa. Com
certeza eu ganhava melhor que todos os outros eventos. Eu ganhava quatro vezes
mais que qualquer evento. Não necessariamente de carro. Se fala da função que
temos na F-1. A gente tem uma função. Quem trabalha com evento sabe que é comum
ficar lá sem fazer nada. Na F-1 somos tratadas como artistas. Lá na F-1 tinha
função de estar lá como apoio. Mas tiram e acabou. Não é mais fácil dividir e
colocar homem também”?
Ada Jaala: Galisteu e Senna ainda é
lembrado
Ada Jaala foi grid girl por 3 anos
Imagem:
Reprodução/Instagram
“A gente sabe e se fala muito que a Adriane Galisteu
conheceu o Ayrton Senna lá e ficam na cabeça que as modelos vão lá pra paquerar
piloto. Eu fui a primeira vez achando que ia conversar com piloto, mas é o
contrário, totalmente separado. O contato que tem com os pilotos é quando
chegam pra preparar o carro, mas coloca o capacete e entra no carro e sai. Não
tem assédio, as pessoas tratam a gente como profissionais. Qualquer deslize os
fotógrafos estão em cima e vira história. Como foi o caso de uma grid com o
Hamilton. Ele deu o casaco pra ela e isso já virou maior história”.
Suellen Gomes: o fim de um trabalho garantido a cada
GP
Suellen Gomes em Interlagos para o GP do Brasil
Imagem: Arquivo Pessoal
“Não é um trabalho fixo, mas é quase que garantido
que terá todo ano. Eu considero um trabalho interessante. Ao invés de sentir a
depreciação da mulher, já senti em outros casos, se sente valorizada, vê o
barulho, a velocidade. É um momento mágico. É um momento único que vive poucas
vezes. É um trabalho como outro qualquer, respeito é fundamental e não
prejudica a imagem da mulher, pelo contrário. Dava visibilidade pra gente que é
modelo e trabalha na área. É um orgulho ser grid girl”.
O que uma piloto pensa das grid girls?
Bia Figueiredo é um dos nomes femininos mais
conhecidos do automobilismo brasileiro. Com passagem pela Indy, a atual piloto
da Stock Car se disse indecisa em relação à proibição das grid girls na Fórmula
1.
“Não sei se achei correto. Único ponto que acho que
possa ser importante é que a Fórmula 1 quer se tornar mais simpática às
mulheres. E se você pensar em mulheres que crescem em ambientes machistas,
violentos, ter esse toque de tirar da posição de objeto, de desejo, pode ser
algo importante para se iniciar”.
A presença das grid girls nunca foi algo que
incomodou Bia. Na Stock Car, a paulista convive com o oposto: os grid boys. Os
rapazes são responsáveis por ajudá-la a tirar fotos com os fãs e segurar seu
guarda-sol nos momentos prévios à corrida.
“É muito útil. São modelos que normalmente são
apaixonados pelo automobilismo. As grid girls não me incomodavam de maneira
alguma”, afirmou. “Sou a favor de a mulher fazer o que ela quiser. É um
trabalho como outro qualquer. Pensando no mundo evoluído parece uma bobeira (a
proibição)”.
GP Brasil não achava errado as grid girls
A organização do GP Brasil de Fórmula 1 afirmou não
ver nenhum problema na presença das grid girls durante a prova realizada no
autódromo de Interlagos. De acordo com Castilho de Andrade, diretor de imprensa
do GP Brasil, as grid girls era uma ferramenta de marketing do evento.
“Quando o patrocinador tinha interesse, se fazia.
Nunca fizemos sem ter um patrocínio”, afirmou. Por causa da falta de
patrocínio, o GP Brasil não contou com grid girls nas provas de 2011 e 2012.
Com a saída das grid girls, a Fórmula 1 anunciou que
crianças passarão a desempenhar a função. Andrade afirmou que a organização do
GP Brasil ainda não recebeu detalhes dessa mudança, mas se coloca favorável.
“Pode ser interessante. A ideia é colocar jovens kartistas para servir de
estímulo para os caras seguirem a carreira de piloto”.
A presença de crianças também conta com o apoio da
Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA). Em nota, a entidade chamou de
“louvável” a decisão, “propiciando o aumento de apaixonados pelo nosso esporte
e incentivando a formação de novos profissionais”.
Sobre a proibição das grid girls, a CBA disse apoiar
“esse momento da sociedade em que se multiplicam atitudes e movimentos em defesa
da mulher” e considera “que é direito dela decidir como e onde deseja ou não
trabalhar”.
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A maior parte dos comentários nas matérias do site Uol - cerca de 80% - são contra o banimento
das modelos e estão culpando sobretudo “as feministas”, “o mundo chato” e a própria “F1”, pois com essa decisão as meninas ficarão sem este emprego.
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Fórmula 1 anuncia fim das "grid
girls" em suas provas em 2018
Imagem: AFP PHOTO / ANDREJ ISAKOVIC
Do UOL, em São Paulo
31/01/2018 11h44
A organização da Fórmula 1 anunciou nesta
quarta-feira que não promoverá desfiles de “grid girls” antes dos GPs a partir
da temporada de 2018. A decisão é válida também para outras categorias que
tenham provas no mesmo fim de semana e local da F1.
De acordo com o comunicado, a prática não é
“condizente com os valores da marca” e com as “normas da sociedade moderna”.
Fora isso, o veto faz parte de uma série de mudanças que a nova proprietária da
Fórmula 1, Liberty Media, começou a implementar na categoria desde que assumiu
o comando em 2017.
"Ao longo do último ano, analisamos uma série
de áreas que achamos necessário atualizar de modo a estar mais em sintonia com
nossa visão para este esporte fantástico", disse o gerente de operações
comerciais da Fórmula 1, Sean Bratches.
"Embora a prática de empregar grid girls tenha
sido um elemento básico de GPS de Fórmula 1 por décadas, nós sentimos que isso
não estava de acordo com os valores da nossa marca e claramente está em
desacordo com as normas da sociedade moderna. Nós não acreditamos que a prática
é apropriada ou relevante para a Fórmula 1 e seus fãs, antigos e novos, em todo
o mundo", completou.
Em 2017, a Liberty Media já iniciou uma estratégia
de se aproximar dos fãs com o uso mais apropriado das redes sociais.
Recentemente, a empresa também promoveu a atualização do logo da Fórmula 1.
A temporada 2018 da categoria terá início no dia 25
de março. Com o adeus de Felipe Massa, o Brasil não terá mais representantes.
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FONTES PESQUISADAS
CARVALHO,
Brunno; TORRALBA, Karla. Grid
girls condenam decisão da Fórmula 1: "Nunca usamos bunda de fora". Disponível
em: <https://esporte.uol.com.br/f1/ultimas-noticias/2018/02/09/grid-girls-condenam-decisao-da-formula-1-nunca-usamos-bunda-de-fora.htm>.
Acesso em: 09 de fevereiro 2018.
UOL - Fórmula 1 anuncia fim
das "grid girls" em suas provas em 2018. Disponível em: <https://esporte.uol.com.br/f1/ultimas-noticias/2018/01/31/formula-1-anuncia-fim-das-grid-girls-em-suas-provas-em-2018.htm>.
Acesso em: 09 de fevereiro 2018.
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