quinta-feira, 18 de julho de 2019

Adriane Galisteu Fala Como é a Vida de Modelo




PLAYBOY: Você diria que vida de modelo não é tão glamourosa quanto as pessoas imaginam?

ADRIANE: Diria, não. Eu afirmo. É um trabalho como qualquer outro. Trabalho duro, cansativo, em alguns casos feito à custa de sacrifício.

PLAYBOY: Tirando aquela fase meia soquete, quando você ficou grandinha qual foi o seu primeiro trabalho como modelo?

ADRIANE: Foi uma série de fotos para uma campanha da Monizac, de calcinha e sutiã, usadas em outdoor. Eu tinha 15 anos.

PLAYBOY: É, verdade que as agências de modelos pressionam as meninas com essa questão de peso?

ADRIANE: É verdade, sim. Existe um padrão, uma relação altura/peso que é considerada ideal para você desfilar numa passarela. Acontece que ninguém vive numa passarela. Eu, por exemplo: por esse padrão, com um 1,74 metro de altura, deveria pesar 49 quilos. Se tivesse esse peso, eu seria um ET. Deus me livre. Estou com 55. O problema é que aqui se adotam padrões europeus e se esquecem de que a mulher brasileira tem bunda, tem curvas e mede, em média, 1,60 metro.

PLAYBOY: Você era pressionada para emagrecer?

ADRIANE: Não só para emagrecer, mas para mudar a sobrancelha, cortar o cabelo... A minha sorte é que a minha família estava sempre por perto, tomando conta. Fui criada no laço.

PLAYBOY: Além disso, o dia a dia deve ser cansativo.

ADRIANE: E casting e teste direto. Você anda com o book debaixo do braço, aí a agência te manda para uma produtora [de fotos, de comerciais de TV] que precisa de uma loira. Chegam cinquenta loiras, cada uma com seu book. Às vezes o cara [que escolhe] põe de cinco em cinco, de dez em dez, encostadas na parede e fica olhando até decidir quem vai fazer aquele trabalho. Isso pode levar um dia inteiro e você não ser escolhida.

PLAYBOY: Esse ambiente já é bem profissional, no Brasil, ou ainda predomina um certo amadorismo?

ADRIANE: Profissional... [pára para pensar] em termos. Existe uma praxe nesse meio que eu considero o oposto do profissionalismo. São os atrasos. Eu nunca chego atrasada a um compromisso. As modelos todas, salvo uma ou outra exceção, são bem pontuais. Marcou às 8 da manhã, lá estamos nós na hora combinada. Aí começa a encrenca. Espera-se o diretor de fotografia acertar a luz. Às vezes isso pode levar 3, 4 horas. Tem a espera da maquiagem, do guarda-roupa... Quando o diretor é muito estrela também costuma atrasar. Olha, eu gostaria de ganhar pelas horas que espero, em vez do cachê por horas trabalhadas.

PLAYBOY: Na TV é a mesma coisa?

ADRIANE: Sem tirar nem pôr. Eu tinha gravação na Manchete num sábado às 3 e meia. Telefonaram ao meio-dia dizendo que os preparativos estavam adiantados e que deveria chegar às 2 horas. Corri feito uma louca, peguei a ponte aérea e às 2 e cinco estava dentro da Manchete. A gravação começou às 6 e meia.


PLAYBOY: Como as agências fazem para conseguir tanta gente bonita?

ADRIANE: Hoje em dia a oferta é muito grande. [Joga o cabelo para trás.] A maior parte é de meninas que procuraram agência, e não o contrário. Elas chegam com seus sonhos, com suas ilusões — como eu, 10 anos atrás. Muitas vêm de longe, escondidas dos pais, para tentar a sorte em São Paulo. As agências gostam de ter sempre um número bem grande de garotas à disposição, embora somente um grupo mais reduzido tenha trabalho permanentemente. Com isso, as agências vão formando seus estoques. Botam catorze, quinze meninas num apartamento...

PLAYBOY: Alojamento de candidatas a modelo?

ADRIANE: Exatamente. Mas isso é o de menos. É melhor as meninas morarem juntas, sob controle, do que ficarem por aí, expostas aos riscos da cidade grande. O problema é que o controle da agência inclui a alimentação, o peso, tudo. É aí que muitas acabam perdendo a sua identidade, a sua personalidade, e viram outra pessoa. Foi contra isso que sempre lutei.

PLAYBOY: Por que você acha que foi um caso à parte?

ADRIANE: Porque eu comecei muito cedo, com 9 anos, e minha mãe estava sempre comigo. Quando cheguei ao ponto de ficar exposta àquelas pressões, já tinha quase dez anos de profissão, mas mesmo assim na agência o pessoal dava uns toques tipo "Olha lá, Adriane, pelo menos 4 quilos". Além do mais, eu não dependia totalmente desse trabalho. Também fui comerciária, trabalhava na Yes Brazil [loja de roupa jovem nos Jardins] e ainda fazia recepção em feiras no [pavilhão de exposições do] Anhembi.

Saiba mais como foi essa vida de modelo até Adriane conhecer Ayrton Senna



FONTE PESQUISADA

Entrevista publicada em fevereiro de 1997, revista Playboy, ed. 259. Editora Abril, São Paulo - SP.

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