PLAYBOY: Você diria que vida de modelo não é tão
glamourosa quanto as pessoas imaginam?
ADRIANE: Diria, não. Eu afirmo. É um trabalho
como qualquer outro. Trabalho duro, cansativo, em alguns casos feito à custa de
sacrifício.
PLAYBOY: Tirando aquela fase meia soquete, quando
você ficou grandinha qual foi o seu primeiro trabalho como modelo?
ADRIANE: Foi uma série de fotos para uma campanha da Monizac, de calcinha e sutiã, usadas em outdoor. Eu tinha 15 anos.
PLAYBOY: É, verdade que as agências de modelos
pressionam as meninas com essa questão de peso?
ADRIANE: É verdade, sim. Existe um padrão, uma
relação altura/peso que é considerada ideal para você desfilar numa passarela.
Acontece que ninguém vive numa passarela. Eu, por exemplo: por esse padrão, com
um 1,74 metro de altura, deveria pesar 49 quilos. Se tivesse esse peso, eu
seria um ET. Deus me livre. Estou com 55. O problema é que aqui se adotam padrões europeus e se esquecem de que a mulher brasileira
tem bunda, tem curvas e mede, em média, 1,60 metro.
PLAYBOY: Você era pressionada para emagrecer?
ADRIANE: Não só para emagrecer, mas para mudar a
sobrancelha, cortar o cabelo... A minha sorte é que a minha família estava
sempre por perto, tomando conta. Fui criada no laço.
PLAYBOY: Além disso, o dia a dia deve ser
cansativo.
ADRIANE: E casting e teste direto. Você anda com
o book debaixo do braço, aí a agência te manda para uma produtora [de fotos, de comerciais de TV] que precisa
de uma loira. Chegam cinquenta loiras, cada uma com seu book. Às vezes o cara [que escolhe] põe de cinco em cinco, de dez
em dez, encostadas na parede e fica olhando até decidir quem vai fazer aquele
trabalho. Isso pode levar um dia inteiro e você não ser escolhida.
PLAYBOY: Esse ambiente já é bem profissional, no
Brasil, ou ainda predomina um certo amadorismo?
ADRIANE: Profissional... [pára
para pensar] em termos. Existe uma praxe nesse meio que eu considero
o oposto do profissionalismo. São os
atrasos. Eu nunca chego atrasada a um compromisso. As modelos todas, salvo uma
ou outra exceção, são bem pontuais. Marcou às 8 da manhã, lá estamos nós na
hora combinada. Aí começa a encrenca. Espera-se o diretor de fotografia acertar
a luz. Às vezes isso pode levar 3, 4 horas. Tem a espera da maquiagem, do
guarda-roupa... Quando o diretor é muito estrela também costuma atrasar. Olha,
eu gostaria de ganhar pelas horas que espero, em vez do cachê por horas
trabalhadas.
PLAYBOY: Na TV é a mesma coisa?
ADRIANE: Sem tirar nem pôr. Eu tinha gravação na
Manchete num sábado às 3 e meia. Telefonaram ao meio-dia dizendo que os
preparativos estavam adiantados e que deveria chegar às 2 horas. Corri feito
uma louca, peguei a ponte aérea e às 2 e cinco estava dentro da Manchete. A
gravação começou às 6 e meia.
PLAYBOY: Como as agências fazem para conseguir
tanta gente bonita?
ADRIANE: Hoje em dia a oferta é muito grande. [Joga o cabelo para trás.] A maior parte é de
meninas que procuraram agência, e não o contrário. Elas chegam com seus sonhos,
com suas ilusões — como eu, 10 anos atrás. Muitas vêm de longe, escondidas dos
pais, para tentar a sorte em São Paulo. As agências gostam de ter sempre um
número bem grande de garotas à disposição, embora somente um grupo mais
reduzido tenha trabalho permanentemente. Com isso, as agências vão formando
seus estoques. Botam catorze, quinze meninas num apartamento...
PLAYBOY: Alojamento de candidatas a modelo?
ADRIANE: Exatamente. Mas isso é o de menos. É
melhor as meninas morarem juntas, sob controle, do que ficarem por aí, expostas
aos riscos da cidade grande. O problema é que o controle da agência inclui a
alimentação, o peso, tudo. É aí que muitas acabam perdendo a sua identidade, a
sua personalidade, e viram outra pessoa. Foi contra isso que sempre lutei.
PLAYBOY: Por que você acha que foi um caso à
parte?
ADRIANE: Porque eu comecei muito cedo, com 9
anos, e minha mãe estava sempre comigo. Quando cheguei ao ponto de ficar
exposta àquelas pressões, já tinha quase dez anos de profissão, mas mesmo assim
na agência o pessoal dava uns toques tipo "Olha
lá, Adriane, pelo menos 4 quilos". Além do mais, eu não
dependia totalmente desse trabalho. Também fui comerciária, trabalhava na Yes
Brazil [loja de roupa jovem nos Jardins]
e ainda fazia recepção em feiras no [pavilhão de
exposições do] Anhembi.
Saiba mais como foi essa vida de modelo até Adriane conhecer Ayrton Senna
Saiba mais como foi essa vida de modelo até Adriane conhecer Ayrton Senna
Entrevista publicada em fevereiro de 1997, revista
Playboy, ed. 259. Editora Abril, São Paulo - SP.
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