quinta-feira, 15 de novembro de 2018

"Senna era fascinante", diz Williams


FÁBIO SEIXAS
da Reportagem Local 
São Paulo, Domingo, 22 de Agosto de 1999

Folha de São Paulo - folha.uol.com.br


DIRETO AO PONTO! OS TRECHOS QUE FRANK WILLIAMS FALA SOBRE AYRTON SENNA:

Para dono da equipe que completa 30 anos na categoria, tricampeão tinha "intelecto para vida e negócios"

No Brasil, porém, Frank Williams será sempre lembrado como o dono do carro em que Ayrton Senna morreu, em 1994.

Em entrevista exclusiva à Folha, ele fala sobre o atual momento ("não estamos bem"), sobre a rival McLaren ("admiro a maneira como eles operam") e sobre Senna ("há uma responsabilidade enorme sobre nosso ombros").


Folha - O senhor trabalhou com alguns pilotos brasileiros: José Carlos Pace...
Williams - 
Um grande piloto.

Folha - Nelson Piquet e Ayrton Senna...
Williams - 
Todos eles eram grandes pessoas.

Folha - Como o senhor pode comparar esses pilotos?
Williams - 
Eram bem diferentes. E correram em eras diferentes. Mas cada um tinha um talento. Ayrton tinha um intelecto incomum, não só para correr, mas para os negócios, para a vida e para a filosofia. Uma pessoa fascinante.

Folha - Uma questão que precisa ser feita diz respeito à morte de Ayrton Senna...
Williams - 
Posso falar pouco sobre isso, porque foi um acidente. Há duas ou três teorias, mas até agora nada foi provado, nada foi descartado. É claro que há uma responsabilidade enorme sobre nossos ombros, e, quando fui para seu funeral, entendi o que sua morte significou para o Brasil. Foi a maior demonstração de amor, simpatia e respeito que já vi.

Folha - O senhor chegou a ter algum sentimento de culpa?
Williams - 
Não divido minhas emoções com ninguém e não vou fazer isso hoje. Foi um dia triste para a Williams, para a McLaren, para a F-1 e para o Brasil. Foi um dos piores dias da história da F-1.




"Senna era fascinante", diz Williams



Para dono da equipe que completa 30 anos na categoria, tricampeão tinha "intelecto para vida e negócios"

FÁBIO SEIXAS
da Reportagem Local 
São Paulo, Domingo, 22 de Agosto de 1999
Folha de São Paulo - folha.uol.com.br


No início do ano, ele recebeu da rainha da Inglaterra o título de "sir", recompensa pelos "serviços prestados ao automobilismo".

Segundo conta, "foi o reconhecimento pelas conquistas da equipe na história da categoria".

Frank Williams, 57, completa nesta temporada 30 anos na F-1.

Estreou no GP da Espanha de 1969 comprando um Brabham, que cedeu para um amigo íntimo, o piloto inglês Piers Courage, morto em um acidente em Zandvoort, Holanda, no ano seguinte.

Foi o primeiro momento de baixa de sua equipe. De 1970 até hoje, a Williams, equipe mais vencedora da história da categoria -nove títulos de construtores-, viveu outros períodos difíceis.

Ou "curvas de aprendizado", como prefere definir.

"Em 84, por exemplo, estávamos em curva de aprendizado, adaptando-nos ao turbo e mudando para uma fábrica nova."

Hoje, a equipe, segundo ele, passa por situação parecida. Campeã de construtores e pilotos em 1997, viu seu rendimento cair no ano passado, quando perdeu os motores da Renault.

Em 1999, vive uma temporada de espera, preparando-se para iniciar, no próximo Mundial, uma parceria com a BMW.

No Brasil, porém, Frank Williams será sempre lembrado como o dono do carro em que Ayrton Senna morreu, em 1994.

Em entrevista exclusiva à Folha, ele fala sobre o atual momento ("não estamos bem"), sobre a rival McLaren ("admiro a maneira como eles operam") e sobre Senna ("há uma responsabilidade enorme sobre nosso ombros").

Folha - No ano passado, a Wil- liams foi a terceira colocada no Mundial de Construtores. Que possibilidades o senhor enxerga para a equipe nesta temporada?
Sir Frank Williams - 
Neste início de ano, não estamos muito bem. Mas acho que podemos ficar em quarto, quinto...

Folha - O senhor pode fazer uma comparação entre o carro deste ano e o de 1998?
Williams - 
Não muito. É um carro diferente. Os pilotos dizem que é muito melhor que o carro de 1998, mas isso é competição. Os outros times também evoluíram.

Folha - A Williams neste ano está com o Alessandro Zanardi, que foi bicampeão na Indy, mas que parece ainda estar com algumas dificuldades na F-1...
Williams - 
Não se trata de dificuldades dele. O problema é que nosso carro ainda não é suficientemente confiável. Ele é um excelente piloto, foi bem em testes recentes. Acho que ainda ninguém viu seu verdadeiro potencial.

Folha - Há especulações sobre uma eventual quebra de contrato da Williams com o Zanardi. O que há de verdade nisso?
Williams - 
Temos um contrato de três anos e não vamos interrompê-lo nem trocar pilotos. Não pensamos nisso. É óbvio que algumas vezes os jornalistas escrevem essas coisas. Acho que deveriam escrever sobre o que vêem.

Folha - O colombiano Juan Pablo Montoya foi seu piloto de testes e agora vem conseguindo sucesso na Indy. O senhor não se sente tentado a buscá-lo?
Williams - 
Não. Ele tem um contrato de três anos com a equipe Ganassi. Não é algo que tem que partir da gente.

Folha - Esse relacionamento com a Ganassi é algo que surgiu de uma eventualidade ou vocês estão pensando em uma espécie de intercâmbio permanente?
Williams - 
Não é bem assim. Ele (Montoya) foi nosso piloto de testes, e sua carreira é dirigida pelo David Sears (dono da Supernova, de F-3.000). E foi o David que achou que ainda era cedo para colocá-lo na F-1, especialmente neste ano, em que estamos nos despedindo de um motor (os Supertec, que equipam a Williams, serão substituídos pelos BMW no próximo ano). Acho que na Indy ele vai ganhar confiança.

Folha - A McLaren hoje ocupa uma posição que por algum tempo foi da Williams, o de melhor equipe da F-1. Como o senhor vê o futuro da McLaren?
Williams - 
Não falo sobre outros times, mas gostaria de dizer que eu admiro a maneira como a McLaren opera. Estou na F-1 há 30 anos, e a McLaren sempre foi nossa maior rival. Agora, a Wil- liams vive um período de baixa, mas vamos voltar ao topo.

Folha - Desde o ano passado, vocês usam gasolina fornecida pela Petrobras. Como o senhor avalia o trabalho da empresa?
Williams - 
Em primeiro lugar, nosso relacionamento com eles, até do ponto de vista pessoal, é muito bom. Eles são muito sinceros. E a tecnologia de combustível da Petrobras é muito forte, impressionante. Conseguiram bons resultados nos Supertec e agora estamos olhando para o futuro.

Folha - Como está o trabalho com a BMW para o ano 2000?
Williams - 
Estamos tentando cobrir a maior área possível. Eles estão aplicando recursos substanciais muito importantes, pessoal e tecnologia nesse programa. Vai ser difícil por um período, isso nós sabemos. Nosso plano é encurtar essa fase. Estamos muito, muito felizes de estar com eles.

Folha - O senhor trabalhou com alguns pilotos brasileiros: José Carlos Pace...
Williams - 
Um grande piloto.

Folha - Nelson Piquet e Ayrton Senna...
Williams - 
Todos eles eram grandes pessoas.

Folha - Como o senhor pode comparar esses pilotos?
Williams - 
Eram bem diferentes. E correram em eras diferentes. Mas cada um tinha um talento. Ayrton tinha um intelecto incomum, não só para correr, mas para os negócios, para a vida e para a filosofia. Uma pessoa fascinante.

Folha - Uma questão que precisa ser feita diz respeito à morte de Ayrton Senna...
Williams - 
Posso falar pouco sobre isso, porque foi um acidente. Há duas ou três teorias, mas até agora nada foi provado, nada foi descartado. É claro que há uma responsabilidade enorme sobre nossos ombros, e, quando fui para seu funeral, entendi o que sua morte significou para o Brasil. Foi a maior demonstração de amor, simpatia e respeito que já vi.

Folha - O senhor chegou a ter algum sentimento de culpa?
Williams - 
Não divido minhas emoções com ninguém e não vou fazer isso hoje. Foi um dia triste para a Williams, para a McLaren, para a F-1 e para o Brasil. Foi um dos piores dias da história da F-1.

Folha - Continuando a falar sobre brasileiros, o senhor conversou com Rubens Barrichello em 94 e no ano passado. Porque ele nunca chegou à Williams?
Williams - 
É sempre complicado. Algumas vezes você quer um contrato, mas o piloto não pode. Outras vezes um piloto que nos interessa nos procura, mas aí nós é que estamos de mãos atadas.

Folha - Os pilotos hoje reclamam dos pneus com sulcos. Qual é sua opinião sobre isso?
Williams - 
Eu nunca pilotei esses carros, então acho que não sou qualificado para falar sobre esse assunto. É uma questão entre os pilotos, a FIA (entidade máxima do automobilismo) e a empresa que fabrica os pneus.

Folha - Como o senhor pode comparar a F-1 dos anos 60, quando o senhor iniciou sua equipe, com a de hoje?
Williams - 
Hoje há muito mais gente, tecnologia, recursos financeiros. Provavelmente, está mais competitiva, mais difícil.



FONTE PESQUISADA

SEIXAS, Fábio. "Senna era fascinante", diz Williams. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk22089931.htm>. Acesso em: 15 de novembro 2018.















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