segunda-feira, 20 de maio de 2019

Estreia do carro que deu primeiros pódios a Senna faz 35 anos

Máquinas Eternas #17: Toleman TG184 levou Ayrton Senna aos seus primeiros pódios

Carro projetado por Rory Byrne estreou há exatos 35 anos, na França, e elevou patamar da modesta equipe inglesa; brasileiro obteve um segundo e dois terceiros lugares em 1984
Rio de Janeiro

Por Fred Sabino
Repórter do Grupo Globo e produtor do quadro Histórias da F1
20/05/2019 07h00  Atualizado há uma hora

Foto: Getty Images

A seção "Máquinas Eternas" desta vez não vai lembrar um carro campeão mundial. Aliás, um carro que jamais venceu uma corrida sequer. Três pódios e uma volta mais rápida foram o máximo que o Toleman-Hart TG184 conseguiu. Mas o carro projetado pelo engenheiro sul-africano Rory Byrne entrou para a história por ter conduzido Ayrton Senna aos seus primeiros resultados expressivos na Fórmula 1. Mais do que isso, foi o carro que projetou o futuro tricampeão mundial ao estrelato. O TG184 fez sua primeira corrida há exatos 35 anos, no dia 20 de maio de 1984, na França.

Antes de o TG184 elevar o patamar da Toleman, a modesta equipe inglesa vinha progredindo muito lentamente na F1. Estreou em 1981, teve uma corrida histórica e surpreendente com Derek Warwick na Inglaterra, em 1982, quando o britânico chegou a andar em segundo antes de o carro quebrar, e fez seus primeiros pontos em 1983, com o próprio Warwick e o italiano Bruno Giacomelli. Mas em 1984, o time contava com uma nova dupla de pilotos, formada pelo venezuelano Johnny Cecotto (ex-Theodore) e o promissor brasileiro Ayrton Senna.

Senna com a Toleman-Hart na pista de Kyalami, em 1984 — Foto: Getty Images

Enquanto o TG184 não ficava pronto, a Toleman se virou nas primeiras corridas do ano com o velho TG183B, um carro de aparência abrutalhada e uma seção dianteira deselegante com os radiadores instalados lá. Para piorar, a equipe estava calçada com os pneus Pirelli, os piores daquela temporada. O motor era o Hart, razoavelmente confiável, mas o mais fraco dos turbos. Sabe-se lá como, Senna arrancou um sexto lugar logo na segunda corrida, na África do Sul, e um sétimo na terceira, na Bélgica. Depois, o sétimo viraria sexto com a desclassificação da Tyrrell da temporada.

Naquele momento, Toleman e Pirelli estavam em rota de colisão, e a equipe boicotou os treinos iniciais para protestar, já que o fabricante italiano não aceitava quebrar o contrato. O problema é que Senna teve problemas intermináveis no carro e uma chuva atrapalhou o brasileiro, que não se classificou para a corrida. Ayrton ainda ficou irritado quando soube que o TG184 já estava pronto, e a Toleman não quis estreá-lo em Imola em meio ao imbróglio com a Pirelli.

Ayrton Senna no GP de Mônaco de 1984 Fórmula 1 — Foto: Getty Images

No grito, a equipe conseguiu se livrar da Pirelli e acertou com a Michelin, que, no entanto, só teria como ceder pneus de especificação de 1983. Só que o esguio e ágil TG184 se revelou um ótimo chassis, e os pneus Michelin de segunda mão eram bem melhores. Em Dijon, na estreia, Senna ficou satisfeito com o rendimento já no primeiro treino e chegou a andar em sexto, mas depois caiu na classificação e quando tentava melhorar seu tempo, pegou óleo do carro de Niki Lauda na pista. Largou em 13º. Na corrida, evoluiu até nono quando o motor quebrou. Cecotto também parou.

Mas o potencial era bom. Na etapa seguinte, em Mônaco, Senna repetiu o 13º lugar no grid, cinco posições à frente de Cecotto. A corrida foi um show histórico de Ayrton debaixo de chuva - Cecotto bateu. Deixaremos para relembrar mais detalhes desta corrida em outro post. Depois do segundo lugar e da melhor volta em Monte Carlo, os olhos do mundo passaram a observar Senna e a Toleman. No Canadá, Ayrton largou em nono, chegou a andar em sexto mas acabou em sétimo, com Cecotto em décimo. De fato, o novo chassis permitia aos pilotos brigarem por pontos sempre.

Show de Ayrton Senna em 1984 ofuscou vitória de Alain Prost no GP de Mônaco — Foto: Getty Images

Nas ruas de Detroit, Senna largou em sétimo e era oitavo quando bateu após quebra da suspensão - Cecotto teve corrida apagada e abandonou. Já em Dallas, Ayrton teve uma boa chance de conseguir um grande resultado. Sexto no grid, pulou para quarto na primeira volta, mas rodou na segunda. Ayrton caiu para o 26º e último lugar, trocou os pneus e bateu quando era 13º. Quando errou no começo da prova, o brasileiro estava à frente de Keke Rosberg e René Arnoux, que terminariam nas duas primeiras posições.

Mas a recompensa viria para Senna em Brands Hatch. Com um carro bastante equilibrado, Ayrton foi sétimo no grid e logo ganhou terreno. Andou em quinto durante toda a prova, brigando com Elio de Angelis (Lotus) até superá-lo na curva Paddock Bend. Com a quebra de Nelson Piquet (Brabham), Senna herdou o terceiro lugar, garantindo o segundo pódio no ano. A festa só não foi completa na Toleman porque Cecotto sofreu um grave acidente nos treinos e quebrou as pernas. O venezuelano jamais voltaria a guiar na Fórmula 1.

Senna pilota Toleman TG184 na pista de Brands Hatch — Foto: Getty Images

Senna foi o único piloto da Toleman nas três corridas seguintes, e o TG184 continuou andando bem. Na Alemanha, onde teoricamente o motor Hart seria um handicap negativo pelos longos trechos de alta velocidade de Hockenheim, Ayrton voltou a brigar pelas primeiras posições. Depois de pular de nono para quinto em duas voltas, o brasileiro vinha pressionando Derek Warwick (Renault) quando a asa traseira entrou em colapso, causando um forte acidente. Por sorte, Ayrton não se machucou.

Na Áustria, Senna outra vez vinha fazendo grande corrida, com um excelente equilíbrio do TG184 nas velozes curvas do Österreichring. Ayrton já era o terceiro colocado quando a pressão do óleo caiu. Um pecado! Na Holanda, onde o brasileiro foi anunciado como piloto da Lotus, o desempenho não foi tão bom, e o motor quebrou quando Senna era o nono.

Ayrton Senna obteve três pódios com o Toleman TG184 — Foto: Getty Images

A Toleman acusou Ayrton de não comunicar previamente sua saída da equipe, e decidiu suspender o brasileiro da corrida seguinte, na Itália. Pierluigi Martini e Stefan Johansson foram chamados para correr nas vagas de Senna e, finalmente, Cecotto. Martini não se classificou para a prova, mas Johanssson fez uma brilhante corrida e terminou em quarto, comprovando que o TG184 era bom mesmo, não apenas Senna o conduzia bem.

Senna voltou ao carro no GP da Europa, penúltima etapa, mas abandonou após um acidente na largada, e Johansson também quebrou cedo. Na corrida final, em Portugal, Ayrton foi um excepcional terceiro colocado no grid, enquanto o sueco ficou em décimo. Na corrida, os dois andaram muito bem de novo, e o brasileiro obteve seu terceiro pódio em 1984, enquanto Johansson, que chegou a andar em sexto, abandonou.

Senna foi o terceiro colocado no GP de Portugal de 1984 — Foto: Getty Images

Terminada a temporada, a Toleman fez testes na segunda-feira com alguns pilotos, e Senna foi chamado para estabelecer um ritmo de referência. Finalmente tendo à disposição os pneus Michelin de especificação 1984, Ayrton fez um tempo melhor do que o da pole position de Nelson Piquet com a potente Brabham-BMW. Uma despedida incrível.



FONTE PESQUISADA

SABINO, Fred. Máquinas Eternas #17: Toleman TG184 levou Ayrton Senna aos seus primeiros pódios. Disponível em: <https://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/blogs/f1-memoria/post/2019/05/20/maquinas-eternas-17-toleman-tg184-levou-ayrton-senna-aos-seus-primeiros-podios.ghtml>. Acesso em: 20 de maio 2019.


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