domingo, 20 de outubro de 2019

Máquinas Eternas #24: McLaren MP4/6 deu tricampeonato mundial a Ayrton Senna em 1991

Por Fred Sabino
Repórter do Grupo Globo e produtor do quadro Histórias da F1

Apesar da escalada da Williams-Renault com o transcurso do campeonato, carro projetado por Neil Oatley foi capaz de levar brasileiro ao título e a equipe ao tetra de Construtores

Rio de Janeiro
20/10/2019 08h00  Atualizado há 10 horas
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Getty Images

O oitavo e último título mundial do Brasil na Fórmula 1 foi conquistado num dia 20 de outubro como hoje. Em 1991, Ayrton Senna se tornou tricampeão mundial depois que Nigel Mansell cometeu um erro no começo da prova. Foi também o quarto campeonato consecutivo da equipe McLaren, e nada melhor do que recontar no F1 Memória a história do modelo MP4/6 com o qual o brasileiro se consagrou definitivamente como um dos grandes da história É a seção Máquinas Eternas!

Em 1990, Senna levou o bi após jogar o carro em cima de Alain Prost no Japão. O chassis MP4/5B estava longe de ser brilhante, mas o motor V10 da Honda era um canhão. Estava claro que o conjunto da Ferrari era uma ameaça à hegemonia da equipe. E o que fez a McLaren para 1991? Adotou um conceito semelhante ao da Ferrari, com um motor de 12 cilindros, laterais altas e bico afilado. A questão é que o projeto atrasou, e o modelo MP4/6 ainda teria câmbio manual, não semiautomático como o da Ferrari.

Ayrton Senna no GP do Brasil de 1991 — Foto: Getty Images

Depois de passar mais tempo do que o habitual de férias em Angra dos Reis, Ayrton Senna testou o MP4/6 pela primeira vez já perto da abertura da temporada. Após experimentar o carro no Estoril, o brasileiro ficou satisfeito, e lá foi a McLaren defender seus títulos, de pilotos e construtores. Senna começou o ano vencendo as quatro primeiras corridas, mas tal superioridade era enganosa, e o próprio Ayrton deixava isso claro, até porque Gerhard Berger vinha tendo problemas.

A Williams-Renault pintou com uma combinação superior à da Ferrari, mas seu câmbio semiautomático ainda não tinha resistência para proporcionar a Nigel Mansell e Riccardo Patrese resultados consistentes no início do ano. Nos EUA, os dois quebraram, mas, no Brasil, Mansell deu um calor enorme em Senna até parar. Depois, Ayrton teve sérios problemas de câmbio e cruzou a linha de chegada na raça. Em San Marino, Patrese liderou no começo, mas abandonou, e Ayrton liderou até o fim, mesmo com problemas de motor. Em Mônaco, o brasileiro era soberano com ou sem Williams.

Ayrton Senna pilota McLaren nos treinos para o GP de Mônaco de 1991 — Foto: Getty Images

Com quatro corridas, ou seja, um quarto do campeonato, Senna tinha 40 pontos contra 11 de Prost, que não vinha andando bem, mas somava seus pontos numa decepcionante Ferrari. Mas Senna sabia que o potencial da Williams poderia explodir a qualquer momento. E explodiu... A partir da etapa do Canadá, a quinta, o modelo FW14 se mostrou o mais veloz na maior parte das pistas. Sabendo disso, Ayrton passou a correr com a cabeça, pensando nos pontos.

No Canadá, Mansell e Patrese dominaram a prova toda, enquanto Senna abandonou pela primeira vez no ano, com pane no alternador. Sorte de Ayrton, que os dois carros da Williams tiveram problemas, e o inglês parou na última volta, naquela que viria a ser a última vitória de Nelson Piquet. Mas nas quatro corridas seguintes, quando finalmente acabaram os problemas de confiabilidade da Williams, Patrese venceu no México, e Mansell ganhou na França, Inglaterra e Alemanha.

Senna à frente de Patrese, Mansell e Berger no GP da Hungria de 1991 — Foto: Getty Images

As dificuldades da McLaren em enfrentar a Williams vinham da concepção do MP4/6: para acomodar o motor V12, maior, mais pesado e com maior consumo de combustível do que o V10, os radiadores precisavam ser maiores, e era preciso mais gasolina e óleo. Com isso, a maior potência do motor era anulada, e, para compensar isso, Senna andava com menos asa do que os carros da Williams e com suspensões mais duras, o que desequilibrava o carro nas curvas. Uma equação complexa, não?

Mas isso quer dizer que o carro era ruim? O próprio Senna disse depois que a evolução aerodinâmica de 1990 para 1991 foi bastante significativa, tanto que a Ferrari, tida como potencial ameaça após a temporada anterior, foi aniquilada. O problema é que apareceu algo melhor, no caso, a Williams.

Gerhard Berger acelera carro da McLaren curva Eau Rouge de Spa-Francorchamps, em 1991 — Foto: Getty Images

Senna e Berger cobraram uma reação da McLaren, e a equipe se mexeu. Na Hungria, o MP4/6 apareceu com um câmbio semiautomático nos treinos, mas era um risco enorme usá-lo em corrida, e a estreia só aconteceu em 1992. Além disso, os técnicos da Honda e da Shell (fornecedora de gasolina) apresentaram evoluções significativas que proporcionaram mais potência ao motor.

Aproveitando as características do travado circuito da Hungria, Senna, que tinha visto sua vantagem no campeonato (para Mansell) cair para apenas oito pontos, deu uma respirada. Na Bélgica, Ayrton deu sorte, pois sobreviveu a um problema de câmbio parecido com o de Interlagos e viu todos os candidatos à vitória, Nigel Mansell, Riccardo Patrese, Jean Alesi e até Andrea de Cesaris, abandonarem.

Gerhard Berger obteve sua única vitória em 1991 no Japão após Ayrton Senna abrir — Foto: Getty Images

Mesmo com a Williams ainda superior, a McLaren conseguiu extrair ao máximo dos máximos o potencial do MP4/6, o que permitiu a Senna administrar a vantagem sobre Mansell. O Leão ainda venceu mais duas corridas, uma delas, na Espanha, após briga antológica com Senna, mas foi na terra da Honda, o Japão, que o tricampeonato foi sacramentado na penúltima corrida.

Com um motor Honda especial, Berger e Senna dividiram a primeira fila, à frente de Mansell. Para Ayrton bastava um segundo lugar, independentemente do que o inglês fizesse. A tática do brasileiro foi simples: manter a segunda posição após a largada e deixar Berger abrir distância, enquanto tentava segurar o ímpeto de Mansell, que precisava vencer desesperadamente.

McLaren conquistou o tetra de construtores em 1991, e Senna, o tri de pilotos — Foto: Getty Images

Na décima volta, o título: Mansell passou reto na curva 1, e, com o grito de Galvão Bueno, a torcida brasileira também soltou o grito de tricampeão. Depois, Senna partiu para cima de Berger, tomou a liderança, mas a devolveu na última volta após intervenção do chefe Ron Dennis.

Ayrton ainda levou o MP4/6 a mais uma vitória na última corrida do ano, na Austrália, para encerrar a temporada com chave de ouro. Mas, apesar de mais um título da McLaren, a sensação era a de que as forças da equipe estavam em seu limite, e que a Williams ainda tinha muito a crescer.

Senna tenta controlar McLaren no começo da temporada de 1992 — Foto: Getty Images

O emprego de recursos na tentativa de conquistar o título de 1991 fez com que a McLaren atrasasse o desenvolvimento do novo modelo MP4/7, que não ficou pronto a tempo das duas primeiras corridas de 1992. Com isso, Senna e Berger ainda usaram o MP4/6 por mais um tempo, mas nada havia a fazer ante a superioridade da Williams, que, com dispositivos eletrônicos como suspensão ativa e controle de tração, evoluiu muito o FW14.

Não faltou trabalho e dedicação à McLaren, que tentou dar um passo bem adiante com o projeto do MP4/7, que tinha acelerador eletrônico, câmbio semiautomático e suspensão ativa. Mas desenvolver tantas novidades levava tempo, e a McLaren não ameaçou o título da Williams em nenhum momento. O MP4/6 marcou mesmo o fim do ciclo mais vitorioso da história da McLaren na Fórmula 1.



FONTE PESQUISADA

SABINO, Fred. Máquinas Eternas #24: McLaren MP4/6 deu tricampeonato mundial a Ayrton Senna em 1991. Disponível em: <https://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/blogs/f1-memoria/post/2019/10/20/maquinas-eternas-24-mclaren-mp46-deu-tricampeonato-mundial-a-ayrton-senna-em-1991.ghtml>. Acesso em: 20 de outubro 2019. 

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