sábado, 25 de janeiro de 2020

Há 30 anos, Senna teve ameaçada participação no campeonato após discussões públicas com Balestre

Brasileiro teve sua superlicença cassada após dizer que decisão da temporada de 1989 tinha sido manipulada e precisou pedir desculpas públicas ao presidente da FIA para poder correr

Rio de Janeiro
25/01/2020 08h01  Atualizado há 4 horas

Getty Images

O mês de janeiro de 1990 foi um dos mais complicados na vida de Ayrton Senna. Depois de perder o título de 1989 no polêmico GP do Japão, o brasileiro teve sua superlicença cassada pelo então presidente da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), o francês Jean-Marie Balestre, e estava com sua participação no campeonato de 1990 seriamente ameaçada.

Isso porque Senna acusou Balestre, amigo e compatriota do rival Alain Prost, de manipular a decisão dos comissários desportivos, que o desclassificaram da prova de Suzuka por cortar a chicane após o choque com Prost. Presidente tanto da FIA quanto da Federação Internacional de Automobilismo Esportivo (Fisa), Balestre tinha muito poder na época e exigia desculpas públicas de Senna.

Prost deixa carro após choque com Senna em Suzuka, em 1989 — Foto: Getty Images

O brasileiro recolheu-se à casa de praia de Angra dos Reis e decidiu manter um silêncio sepulcral. Pelo menos, publicamente. Na prática, conversava diariamente com o chefe da McLaren, Ron Dennis, que tentava convencê-lo em escrever uma carta desculpando-se com Balestre por ter dito que o campeonato de 1989 havia sido manipulado.

Ayrton não queria. Entendia o campeão de 1988 que pedir desculpas ao dirigente seria admitir sua culpa no acidente de Suzuka e a ainda a justiça de sua desclassificação. Quando da cassação de sua licença, um "dossiê" foi apresentado pela FIA, e, entre outras coisas, Senna foi acusado de ter tirado Prost da corrida do Japão e de ter se envolvido em diversos outros incidentes nos anos anteriores.

Senna deu entrevista contundente contra Balestre e Prost na Austrália, em 1989 — Foto: Reprodução/redes sociais

Havia ainda um outro bastidor: a disputa pessoal entre Balestre e Dennis. Quando Senna foi desclassificado, a McLaren foi muito firme ao defender o brasileiro, mostrando outros casos nos quais pilotos cortaram chicanes e não foram punidos. Na época, além de controlar a McLaren, Dennis tinha ações na Tyrrell e queria adquirir a Brabham. Balestre temia que Dennis lhe roubasse - e também de Bernie Ecclestone - o poder na F1.

Em dado momento, quando Senna estava no auge do silêncio e parecia irredutível, Balestre chegou a dizer que o brasileiro estava sendo "usado como instrumento", num claro ataque a Dennis. O francês chegou mesmo a dizer que a reclusão de Ayrton era positiva se comparada à explosão de raiva pela desclassificação e não renovação da superlicença.

Jean-Marie Balestre foi presidente da FIA e da Fisa até 1991 — Foto: Getty Images

A tensão seguiu nas semanas seguintes. No prazo limite dado por Balestre para Senna se desculpar, 17 de fevereiro, pingou na sede da FIA, em Paris, um fax (era o que de mais moderno existia) atribuído ao brasileiro no qual ele reconhecia que o campeonato de 1989 não havia sido manipulado. Duas horas depois de uma primeira lista de pilotos divulgada pela FIA ter o reserva Jonathan Palmer., Ayrton Senna teve confirmada sua inscrição.

- Minha participação no campeonato deste ano se deve ao fato de termos encontrado um denominador comum que passou a existir esta manhã - declarou Senna, tomando o cuidado de evitar o termo "desculpas".

Ayrton Senna conquistou o bicampeonato mundial de F1 em 1990 — Foto: Getty Images

Sentindo-se vitorioso na guerra, o ex-soldado da SS francesa Balestre tentou ser magnânimo:

- Foi uma vitória do esporte automobilístico.

Em 1990, Ayrton Senna conquistou seis vitórias pela McLaren e chegou ao bicampeonato, depois de provocar um acidente com Prost após a largada do GP do Japão, em Suzuka. Apesar da revolta do francês, o brasileiro não seria punido.


FONTE PESQUISADA

SABINO, Fred. Há 30 anos, Senna teve ameaçada participação no campeonato após discussões públicas com Balestre. Disponível em: <https://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/blogs/f1-memoria/post/2020/01/25/ha-30-anos-senna-teve-ameacada-participacao-no-campeonato-apos-discussoes-publicas-com-balestre.ghtml>. Acesso em: 25 de janeiro 2020. 

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