sábado, 2 de maio de 2020

VECTRA PODE TER CONTRIBUÍDO PARA O ACIDENTE FATAL DE AYRTON SENNA?

Teoria explica a possível influência do sedã da Chevrolet na colisão sofrida pelo tricampeão mundial de Fórmula 1 no GP de San Marino, em 1994

por RODRIGO RIBEIRO


01/05/2020 10h17 - atualizado às 10h17 em 01/05/2020




Opel Vectra 2.0 Turbo 4x4 (Foto: Divulgação)

O VECTRA USADO NA FÓRMULA 1 ERA DE PRIMEIRA GERAÇÃO, VENDIDO NO BRASIL PELA CHEVROLET (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Hoje, 1º de maio, completam-se 26 anos do acidente que tirou a vida de Ayrton Senna, durante o GP de San Marino da Fórmula 1. O motivo da morte do piloto foi revelado logo após a colisão: uma parte da suspensão dianteira se projetou como uma lança e perfurou o capacete do tricampeão.


Mas uma miríade de teorias tenta explicar o motivo de Senna ter perdido o controle na rápida, mas tecnicamente fácil, curva Tamburello. E um dos "culpados" pode ter sido um Chevrolet Vectra, vendido na Europa como Opel.

Para entender o que um simples sedã médio tem a ver com um dos momentos mais trágicos do esporte primeiro é preciso voltar ao regulamento da Fórmula 1.

No início dos anos 90 a competição tinha muito menos cuidados com a segurança: não havia limite de velocidade nos boxes, as equipes podiam circular no pitlane durante a prova e, quando ocorria um acidente, usavam-se apenas bandeiras amarelas enquanto era feito o resgate. Em casos mais graves, a corrida era interrompida.

Opel Vectra 2.0 Turbo 4x4 Safety Car (Foto: Reprodução)


O CARRO DE SEGURANÇA PASSOU A ASER USADO DE FORMA FIXA NA TEMPORADA DE 1994 (FOTO: REPRODUÇÃO)

Após alguns testes bem sucedidos no ano anterior, a FIA (Federação Internacional do Automóvel) resolveu tornar obrigatório o uso do safety car. A ideia era que um veículo à frente dos pilotos estabelecesse um ritmo mais lento, sobretudo no local onde fiscais e médicos faziam o atendimento de acidentes.

Em cada prova era utilizado um veículo diferente, e o modelo escolhido para o GP de San Marino de 1994 foi um Opel Vectra 2.0 turbo 4x4. A versão era a topo de linha para o sedã na época, e a exposição à frente dos carros de Fórmula 1 seria uma excelente forma de publicidade para a fabricante alemã.

E o sedã entrou em ação logo após a largada daquele dia 1º de maio, quando Pedro Lamy bateu no carro parado de J.J. Lehto e espalhou detritos pela pista. E aí começa a teoria de como o Vectra pode ter contribuído para o acidente fatal de Senna.

Opel Vectra 2.0 Turbo 4x4  (Foto: Divulgação)


A VERSÃO DO VECTRA USADA NA FÓRMULA 1 TINHA MOTOR 2.0 TURBO E TRAÇÃO 4X4, QUE NUNCA FORAM OFERECIDOS NO BRASIL (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Quem vê pela TV pode ter a sensação de que os monopostos de Fórmula 1 andam bem devagar atrás do safety car. Mas é só impressão: apesar de a velocidade, de fato, ser reduzida, os pilotos sempre trafegam acima dos 100 km/h, exceto quando estão em curvas fechadas ou se precisam passar muito próximos dos profissionais de resgate.

O principal motivo para isso é que os radiadores de um Fórmula 1 não são projetados para refrigerar o motor com o veículo parado. Isso os deixa menores e mais leves, pois também não há ventoinha para jogar ar frio quando o carro está imobilizado.

Esse é um dos motivos pelo qual a primeira medida a se realizar quando o piloto é recolhido aos boxes é colocação de ventiladores nos radiadores, para resfriá-los.

Opel Vectra 2.0 Turbo 4x4 Safety Car (Foto: Divulgação)


O VECTRA LIDEROU O PELOTÃO NAS CINCO PRIMEIRAS VOLTAS DO GP DE SAN MARINO (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Voltemos a 1994. Naquela época, essa limitação técnica dos carros da Fórmula 1 não era motivo de preocupação, até por conta do quase ineditismo do safety car — que chegou a ser utilizado em eventos do passado, mas nunca de forma obrigatória.

Por conta disso, os organizadores consideraram que o Vectra turbo, com 204 cv de potência e capaz de chegar aos 225 km/h, seria suficiente para liderar o pelotão.

Só que o sedã sofria para manter o comboio liderado por Ayrton Senna a velocidades satisfatórias. E isso perdurou por quase cinco voltas, até que o safety car fosse recolhido e a corrida continuasse.

Duas voltas depois, ocorreria o acidente que marcou a memória de uma geração de brasileiros.

Sem pressão

Opel Vectra 2.0 Turbo 4x4  (Foto: Divulgação)


PEDIMOS DESCULPAS PELA FOTO MACHISTA: RETRATOS DE UMA ÉPOCA QUE, FELIZMENTE, NÃO VOLTA MAIS (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Já vamos chegar na suposta culpa do Vectra. Mas antes é preciso reforçar outra característica da Fórmula 1. Seus pneus são preenchidos com nitrogênio a uma pressão muito menor do que em um carro de passeio.

Nas últimas temporadas, a pressão regulamentada poderia variar, em média, entre 15 lb/pol² a 24 lb/pol². Como referência, um automóvel convencional normalmente parte de 28 lb/pol², e facilmente ultrapassa as 30 lb/pol².

Opel Vectra 2.0 Turbo 4x4  (Foto: Divulgação)

A VERSÃO 2.0 TURBO 4X4 ERA A TOPO DE LINHA DO VECTRA EM ALGUNS MERCADOS NA ÉPOCA (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Esses valores menores tornam os compostos proporcionalmente muito sensíveis à qualquer variação de pressão. E todo o ajuste de aerodinâmica e suspensão é feito levando em conta o tamanho que o pneu terá durante a corrida — o ar quente expande, e muda o formato da borracha como em um balão.

Aí entra a teoria do "safety car" inadequado. Segundo essa explicação, as cinco voltas percorridas por Ayrton Senna em baixa velocidade atrás do Vectra fizeram com que seus pneus esfriassem muito e, por sua vez, perdessem pressão.

O volume menor dos pneus também teria deixado o carro mais baixo. Isso teria feito com que o assoalho do Williams FW16 batesse no chão pouco após a Tamburello, levando Ayrton Senna a perder o controle e colidir contra a mureta de proteção.

Opel Vectra 2.0 Turbo 4x4  (Foto: Divulgação)

O MOTOR 2.0 TURBO ALCANÇAVA OS 204 CV, INSUFICIENTES PARA MANTER A ALTA VELOCIDADE QUE OS F1 PRECISAM (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Apesar de usar elementos técnicos verdadeiros, essa teoria já foi desmitificada por especialistas há anos.

Além de nenhum outro piloto ter sofrido o mesmo problema na ocasião, foi comprovado que uma solda malfeita na barra de direção do Williams levou à quebra da coluna, provocando o acidente.

Por outro lado, as críticas em torno da lentidão do safety car perduraram, e só foram completamente sanadas em 1999, quando a FIA fechou um acordo com a Mercedes e passou a usar somente esportivos da marca alemã para liderar os monopostos.

Mercedes-AMG GT R Safety Car Fórmula 1 (Foto: Divulgação)

ATUALMENTE UM GT R DE 585 CV FAZ AS VEZES DE SAFETY CAR. E HÁ QUEM DIGA QUE NÃO É O SUFICIENTE (FOTO: DIVULGAÇÃO)

E não pense que isso resolveu todas as críticas. Mais de uma vez pilotos como Lewis Hamilton reclamaram que o piloto Bernd Mayländer não dirigia o Mercedes-AMG GT R de 585 cv rápido o suficiente para manter pneus (e freios) dos monopostos aquecidos. Não é nada fácil estar à frente de um pelotão de carros da F1, afinal.




FONTE PESQUISADA

RIBEIRO, Rodrigo. VECTRA PODE TER CONTRIBUÍDO PARA O ACIDENTE FATAL DE AYRTON SENNA?. Disponível em: <https://revistaautoesporte.globo.com/Noticias/noticia/2020/05/vectra-pode-ter-contribuido-para-o-acidente-fatal-de-ayrton-senna.html>. Acesso em: 02 de maio 2020. 

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