O Anjo Pecador por Jacob
Pinheiro Goldberg, amigo e mentor de Ayrton Senna
Quando John Kennedy foi assassinado, Jaqueline Kennedy transformou-se na viúva da América. Tempos depois, quando resolveu casar-se com o bilionário Aristóteles Onassis, foi acusada de oportunista, vigarista.
O jornal parisiense publicou uma manchete histórica: "Ah, Jaqueline..." ("Le Monde") típica de um sentimento de frustração do conservadorismo e da hipocrisia. Os "bem-pensantes" exigiam dela uma virgindade "post-mortem". Qual a origem deste sentimento?
A tradição bíblica alude ao mito de Lilith, a mulher demoníaca de Adão, em contraposição a Eva.
A noção da figura insidioso feminina sempre acompanhou a repressão machista. O fascismo moral, base do nazi-fascismo político e ideológico, parte do pressuposto de um narcisismo homossexual enrustido, não assumido que, no fundo se apavora com o erotismo feminino. A vagina enxergada como a porta de entrada do Inferno.
No enterro de Ayrton Senna, fiquei impressionado com a desolação de Adriane Galisteu.
A tristeza era geral, mas ela, obviamente, tinha perdido o seu futuro. Muitos choravam o passado, Adriane era uma figura grega naquele cenário.
Lembrei-me de outra vez, Ayrton Senna concedendo uma entrevista coletiva a imprensa internacional e brasileira falando de seu projeto de uma revista ecológica, humanista, com códigos de formação anti-racista, usando heróis e heroínas em igualdade de condições. Diante da pergunta de um repórter japonês, pediu que eu respondesse em nome dele sobre seus propósitos não-comerciais e idealistas do empreendimento. Num átimo de tempo, captei o cruzamento de olhares entre Adriane e Ayrton. No amor, o importante é o sentimento de cumplicidade. Eles eram cúmplices. E por isto, invisíveis e infindáveis. Mas, também, potencialmente, vitimas da inveja.
O amor, e mais, a paixão, provocam o ressentimento, o ódio, a vingança
dos mal-amados.
E a nossa pobre Adriane Galisteu foi eleita para ser a vítima deste processo.
O nosso golden boy, o príncipe da nossa bem-querença morto, quiseram e querem que ela seja considerada a aventureira, indigna do legado do mito e do herói.
No fundo, Adriane, a loira escultural, habita a fantasia de todo o desejo masculino brasileiro, e ai dela se quiser continuar a viver, sorrir, namorar, amar.
No fundo as mulheres morrem de recalque diante da exuberância e intenção de continuar a sua carreira, os seus romances, o seu sexo. Ninguém perdoa aquela que dividiu com o nosso herói, a cama e o segredo. Por tudo isto, que se cale a instituição nacional da fofoca e do provincianismo pequeno burguês.
Ayrton Senna não foi celebre porque corria nas pistas. Outros também o fazem e nem por isso são profetas. Se Moisés ou Jesus vivessem hoje, provavelmente correriam na F1, para dizer: "Eu vi Deus", origem e destino do seu carisma. Olhar, chegar perto, vibrar de longe com Ayrton era compartilhar esse território mágico e sagrado.
Não banalizem o que vivemos. Aqueles que tiveram como eu a ventura de num momento, tocar, conversar, conviver com Ayrton, respeitemos a sua escolha, o anjo que nadou com ele nas chamas do carinho.
Não são monumentos que vão eternizar a memória de Ayrton. É o seu olhar transfigurado que se deita em Adriane, em cada torcedor, e principalmente nas crianças que ficaram órfãs dele. Vai fundo Adriane, viva, ame, continue. Ayrton esta presente, se sente, se sente"
Quando John Kennedy foi assassinado, Jaqueline Kennedy transformou-se na viúva da América. Tempos depois, quando resolveu casar-se com o bilionário Aristóteles Onassis, foi acusada de oportunista, vigarista.
O jornal parisiense publicou uma manchete histórica: "Ah, Jaqueline..." ("Le Monde") típica de um sentimento de frustração do conservadorismo e da hipocrisia. Os "bem-pensantes" exigiam dela uma virgindade "post-mortem". Qual a origem deste sentimento?
A tradição bíblica alude ao mito de Lilith, a mulher demoníaca de Adão, em contraposição a Eva.
A noção da figura insidioso feminina sempre acompanhou a repressão machista. O fascismo moral, base do nazi-fascismo político e ideológico, parte do pressuposto de um narcisismo homossexual enrustido, não assumido que, no fundo se apavora com o erotismo feminino. A vagina enxergada como a porta de entrada do Inferno.
No enterro de Ayrton Senna, fiquei impressionado com a desolação de Adriane Galisteu.
A tristeza era geral, mas ela, obviamente, tinha perdido o seu futuro. Muitos choravam o passado, Adriane era uma figura grega naquele cenário.
Lembrei-me de outra vez, Ayrton Senna concedendo uma entrevista coletiva a imprensa internacional e brasileira falando de seu projeto de uma revista ecológica, humanista, com códigos de formação anti-racista, usando heróis e heroínas em igualdade de condições. Diante da pergunta de um repórter japonês, pediu que eu respondesse em nome dele sobre seus propósitos não-comerciais e idealistas do empreendimento. Num átimo de tempo, captei o cruzamento de olhares entre Adriane e Ayrton. No amor, o importante é o sentimento de cumplicidade. Eles eram cúmplices. E por isto, invisíveis e infindáveis. Mas, também, potencialmente, vitimas da inveja.
O amor, e mais, a paixão, provocam o ressentimento, o ódio, a vingança
dos mal-amados.
E a nossa pobre Adriane Galisteu foi eleita para ser a vítima deste processo.
O nosso golden boy, o príncipe da nossa bem-querença morto, quiseram e querem que ela seja considerada a aventureira, indigna do legado do mito e do herói.
No fundo, Adriane, a loira escultural, habita a fantasia de todo o desejo masculino brasileiro, e ai dela se quiser continuar a viver, sorrir, namorar, amar.
No fundo as mulheres morrem de recalque diante da exuberância e intenção de continuar a sua carreira, os seus romances, o seu sexo. Ninguém perdoa aquela que dividiu com o nosso herói, a cama e o segredo. Por tudo isto, que se cale a instituição nacional da fofoca e do provincianismo pequeno burguês.
Ayrton Senna não foi celebre porque corria nas pistas. Outros também o fazem e nem por isso são profetas. Se Moisés ou Jesus vivessem hoje, provavelmente correriam na F1, para dizer: "Eu vi Deus", origem e destino do seu carisma. Olhar, chegar perto, vibrar de longe com Ayrton era compartilhar esse território mágico e sagrado.
Não banalizem o que vivemos. Aqueles que tiveram como eu a ventura de num momento, tocar, conversar, conviver com Ayrton, respeitemos a sua escolha, o anjo que nadou com ele nas chamas do carinho.
Não são monumentos que vão eternizar a memória de Ayrton. É o seu olhar transfigurado que se deita em Adriane, em cada torcedor, e principalmente nas crianças que ficaram órfãs dele. Vai fundo Adriane, viva, ame, continue. Ayrton esta presente, se sente, se sente"
FONTE PESQUISADA
LIMA, Paulo. Adriane Galisteu, a inveja
feminina e o desejo masculino. Revista Trip, São Paulo, nº 42, ano 8, p. 3 –
10, 1995.
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