quinta-feira, 16 de maio de 2013

A Última Corrida Pela McLaren



Havia um clima de saudade no austero boxe da McLaren, mas só Jô Ramirez, coordenador técnico da escuderia, viu as lágrimas nos olhos de Ayrton Senna, na última largada do brasileiro pelo time inglês.

“O Jo é um chantagista”, acusou Senna, ao revelar as palavras do mexicano, minutos antes da luz verde.

Ramirez gritou no ouvido de Senna que o piloto já havia feito demais pela escuderia desde 1988. Era tricampeão e foi o piloto que mais deu pole positions e vitórias à McLaren; foram 34 em seis temporadas. Mas aquela seria a 35ª e um triunfo muito especial. Não a´penas pela despedida, mas se vencesse a corrida somaria 104 vitórias da McLaren na Fórmula 1, superando as 103 da Ferrari.

Senna se concentrou muito na terceira largada, depois das duas abortadas, porque temia pelo consumo da bateria. Em velocidade baixam, como na volta de apresentação, o carro consome em excesso a energia da bateria e o motor pode apagar.

“Eu tinha um olho no Prost, ao me lado, e outro no retrovisor, atento ao Damon Hill, que largaria logo atrás de mim, com o segundo Williams-Renault. Afinal, era a minha única pole position do ano de 1993 e eu não queria desperdiçar.”

De perto, oculto pelo macacão grosso e colorido, o capacete amarelo e a máscara anticombustão, Ayrton Senna parecia de outra galáxia. Dentro da Fórmula 1, uma máquina que transformava em mágica, engolia a pista na velocidade do vento, na busca do limite total.

Era assim que Ayrton Senna partia para a pole position. Unia a sensibilidade de gênio com a frieza mecânica, sincronizando o pulsar do coração com os 15 mil giros do motor para domar o bólido de mil cavalos e ganhar a posição que ele transformou, de privilegio na largada, em desafio. Quando teve carro, conquistá-la foi mera rotina, mas derrotar Senna virou troféu para os adversários.

Confessou que o medo de largar espremido no meio do pelotão despertou-lhe a obsessão do primeiro posto no grid e, muitas vezes, foi alem do que julgava ser o seu limite para conquistá-lo.


Como nos velhos tempos, Ayrton não errou naquela última largada da temporada. Partiu na frente e rumou para seu último show nas ruas de Adelaide. Só deixou a ponta quando parou para trocar pneus 23ª das 79 voltas. Retornou a liderança na 29ª e cruzou a bandeirada rumando para um pódio único e histórico. Com ele, subiram Alain Prost, o tetracampeão na corrida da aposentadoria, e Damon Hill, um futuro campeão. Ayrton Senna da Silva consagrava, depois de 158 grandes prêmios disputados até ali, a sua 41ª vitoria. Uma façanha que o mundo nunca mais 


Nenhum comentário:

Postar um comentário