quarta-feira, 1 de maio de 2013

Pilotos que estavam em Imola relembram morte de Senna

01/05/2013 09h41 - Atualizado em 01/05/2013 18h21
Site Globo Esporte
Por Alexander Grünwald
São Paulo


Rubens Barrichello, Christian Fittipaldi e Tony Kanaan contam os bastidores do trágico 1º de maio de 1994, quando um acidente matou o tricampeão




Este roteiro todo brasileiro conhece: há exatos 19 anos, Ayrton Senna liderava o GP de San Marino de Fórmula 1 quando a quebra de um componente mecânico de sua Williams fez o carro parar de responder aos comandos do volante, passando reto na curva Tamburello até ir ao encontro do muro de concreto. No impacto, uma peça que se soltou da suspensão atingiu em cheio o capacete do tricampeão mundial, que não resistiu ao impacto. Aos 34 anos, Senna morreu no auge da carreira e da fama, tornando-se um ícone ainda maior do que já era na época. Um choque que atingiu milhões de brasileiros e que deixou marcas em três compatriotas, também pilotos, que estiveram no circuito de Imola naquele fatídico fim de semana: Rubens Barrichello, Christian Fittipaldi e Tony Kanaan.


Adversários desde o kart, Rubinho e Christian ainda começavam suas carreiras na F-1 quando Senna sofreu seu acidente fatal. Ambos sonhavam repetir, mesmo em parte, o sucesso alcançado por Senna em dez anos na categoria. A 65ª pole position de Ayrton, marcada justamente naquele fim de semana, somava-se às suas 41 vitórias e seus três títulos mundiais, criando uma aura que ia além dos números. O que fez o jovem Fittipaldi duvidar que pudesse ter ocorrido algo mais grave na batida. O piloto, então com 23 anos, confessa que não pensou no pior quando desviou dos destroços da Williams de Senna.
Com a Williams, Ayrton largou na pole e liderou a prova até seu acidente fatal (Foto: Getty Images)
- Eu passei pelo local alguns segundos depois e sabia que era ele que tinha batido. No momento em que eu passei, não havia chegado ninguém (do resgate). Aí pararam a corrida e saímos dos carros. Mas, sinceramente, ele era uma figura tão imortal que nem me passou pela cabeça a hipótese de ter acontecido algo tão grave como o que aconteceu. O que eu pensava era: “paciência, ele no máximo quebrou um braço ou uma perna, daqui a 40 dias estará de volta no carro acelerando” – lembra Christian, que atualmente corre provas de longa duração nos EUA.


Já Rubens Barrichello admite que “não faz questão de lembrar” daquele fim de semana. Então com 21 anos, o futuro recordista de GPs na F-1 bateu forte em um dos treinos livres de sexta-feira e encerrou ali sua participação no GP de San Marino. A pancada, que fez o carro da Jordan capotar, causou a quebra de um braço, um corte profundo na boca e uma amnésia temporária que dá um tom de filme a tudo o que aconteceu ao seu redor nos 20 dias seguintes. Inclusive a morte e o funeral de Senna. Mesmo assim, ele se lembra de alguns momentos daquele fim de semana.
Dpois dias antes, Barrichello bateu forte e não disputou a fatídica corrida de Imola (Foto: Getty Images)
- Eu tenho certa dificuldade em saber se o que eu lembro é o que eu vi na foto ou o que eu realmente lembro. Todas as cenas de hospital, saída de autódromo, volta ao autódromo para falar com o Ayrton no dia seguinte, eu tenho uma vaga memória disso tudo. Eu já estava na Inglaterra, no domingo, quando o acidente dele ocorreu. E disso eu me lembro, assistindo à televisão: o último movimento do Ayrton nos pareceu uma coisa ótima, que ele estava tranquilo. É uma situação muito difícil de uma memória doída, que, ao mesmo tempo, não faço questão de lembrar, porque foi uma coisa que machucou. É um dia trágico em que tive até um pouco de sorte em ter a memória apagada – revela Barrichello, que corre atualmente na Stock Car.

Clima pesado e poucas informações

Apesar de estar na pista no momento do acidente de Senna, Christian reforça que as informações sobre o estado de saúde do tricampeão e Senna eram escassas e confusas. Segundo ele, durante o período em que a prova ficou interrompida para o resgate do tricampeão, os demais pilotos saíram de seus carros, mas não se tinha ideia alguma do que havia ocorrido com o brasileiro, que só foi oficialmente declarado morto meia hora após o término da corrida.

- Às vezes você não sabe se a demora é por causa do atendimento ou porque a batida danificou demais a pista. Eles poderiam estar reparando algum muro de proteção. Eu não sabia nada, não chegava informação, era tudo muito nebuloso. Tanto que o Berger, que era extremamente próximo dele, relargou na corrida. O que quer dizer que provavelmente não chegou informação alguma. Depois, por rádio, acabaram falando alguma coisa para ele durante a prova, que a situação era muito mais crítica do que tudo aquilo que estava se imaginando, e ele acabou parando. Quando terminou a prova, saí do motorhome depois de me trocar e já senti o clima mais pesado, todo mundo mais quieto. Foi o JJ Lehto que me contou o que havia acontecido – recorda Christian.

Após a entrada do safety car, o GP de San Marino de 1994 foi reiniciado na sexta volta (Foto: Getty Images)
Lehto é um piloto finlandês que disputou 62 GPs entre 1989 e 1994, e que fazia sua estreia pela Benetton naquele GP de San Marino. Mas a primeira prova pela nova equipe não durou nem cem metros, pois ele acabou se chocando com a Lotus de Pedro Lamy, que ficou parada no grid. O acidente provocou a entrada do carro de segurança, que só deixou a pista cinco voltas depois. Quando os pilotos puderam acelerar seus carros novamente, a Williams sofreu a quebra na coluna de direção que culminou na morte de Ayrton Senna. Desde então, 19 anos e 331 GPs depois, nenhum piloto morreu ao volante de um carro de Fórmula 1.

Duras lembranças para Kanaan

Atualmente um consagrado competidor da Fórmula Indy, Tony Kanaan também estava em Imola no momento do acidente de Ayrton Senna. Com 19 anos de idade e competindo na F-Alfa-Boxer, uma divisão de base da Fórmula 1 na época, o piloto morava na Itália e havia ido acompanhar o amigo Rubens Barrichello, e ficou no autódromo para acompanhar a prova. Mesmo com as poucas informações que chegavam, Tony se recorda de algo que o impactou naquele dia, diante da hipótese de perder um ídolo da dimensão de Senna.


Atendimento médico ao tricampeão causou a paralisação da corrida e muita apreensão (Foto: Getty Images)


- Na pista, todo mundo ficava naquele murmurinho. E para quem entende um pouquinho de corrida, na hora que o helicóptero levantou e tinha aquela poça de sangue no chão... ali você pode até achar que o cara não morreu, mas não dava para você achar que ele ia ficar bem. Acho que foi o pior dia da minha carreira, uma sensação esquisita. Era um cara que era um ídolo. Lembro do Rubinho machucado, com a boca “deste tamanho” e o cara batendo. Foi triste demais, uma coisa que marcou – afirma Tony, que foi campeão da Indy em 2004.




FONTE PESQUISADA
GRÜNWALD, Alexander. Disponível em: <http://m.globoesporte.globo.com/motor/formula-1/noticia/2013/05/apos-19-anos-pilotos-que-estavam-em-imola-relembram-morte-de-senna.html>. Acesso em: 01 de maio 2013.


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