Felizmente, tenho uma pessoa de absoluta confiança, a quem
nunca tive vergonha de consultar sobre meus segredos, todos eles. Liguei para
minha mãe - isso mesmo, minha mãe, sócia de todas as agruras e felicidades de minha
vida, desde sempre, desde criancinha. Ela quase teve um chilique.
Perguntei:
- Ele vai me ligar?
- Vai, minha filha. Vai.
A voz dela, ainda que surpresa, não era de quem consolava
uma filha ansiosa e confusa. Era a voz do conhecimento e da razão.
Passei a segunda-feira em plantão telefônico. Nada. Corri
para pedir colo a minha mãe. Ela insistiu: "Vai telefonar".
Terça-feira - espera.
Telefonou. Meio tímido:
- Perdeu um festão.
- Ah, é? - eu, travadona.
- Tem mais: você esqueceu seu relógio. Pensei comigo: Freud
explica.
- Aqui pra nós, relógio horrível, hein? Pesadão, meio
masculino... Achei que era de algum amigo meu - provocou.
Modelito surfista: relógião de mergulho. Mas eu gostava.
Sugeri que ele entregasse para a dupla Daniela-Danielle, com quem eu acabaria
me encontrando na agência. Encontrei-as, na quarta-feira, mas nada de relógio.
- Ele quer entregar pessoalmente - disseram as duas. -
E olha, não falou de outra coisa a não ser de você.
Tive que me conter para não sair, em plena Elite, dando
socos no ar, como um jogador de futebol após o gol. Mas meus olhos devem
ter me denunciado quando elas contaram a reação dele, quando o Gordinho
sacaneou:
- Você ficou amarradão na loura, cara! Eu também.
Ayrton fechou a cara:
- Não brinca com isso, não.
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