sexta-feira, 7 de junho de 2013

CAMINHO DAS BORBOLETAS - Adriane Galisteu vai embora de Angra dos Reis e o medo de não ver mais o Ayrton



Ao deixar Angra, naquele domingo de verão e do primeiro encontro, minha alma era um grão de areia. Depois daqueles quatro dias de idílio, ia voltar a minha praia. Trampo duro. Duas da tarde, desfile da griffe Australian Downsound, no AeroAnta - que eu tinha de coordenar. Estilo som reggae, moçada parafinada, meninas de penugens douradas nas pernas, calções rasgadinhos de lado, camisetas estampadas, pranchas que sonhavam com os tubos do Hawaii (pronunciava-se, na tribo, Rauai). Até o dia  em que voei para Angra, essa era, de certo modo, a minha tribo. Agora que eu voava de volta, sentia que não pertencia mais a ela.
Os quarenta e pouco minutos de viagem no King Air dele, um avião azul e branco que ficava permanentemente estacionado no aeroporto de Angra, me pareceram milhares de horas. Olhava da janela, aflita:
- Será que verei isso de novo? Numa tradução mais verdadeira: - Será que verei ele de novo?
A tal história da agenda lotada me atormentava. Mas outros pensamentos vinham em meu socorro, esperançosos, e eu me apegava a eles: a insistência dele para que eu ficasse até quarta-feira; os momentos de carinho vividos intensamente; ele me levando de helicóptero até o aeroporto e se despedindo com um prolongado beijo. As certezas brigavam, porém, com as dúvidas e eu me debatia com aquele burocrático "a gente se vê" que ele me disse, como despedida. "A gente se vê", eu remoía. "Ele não teria uma frase menos óbvia para dizer?" O avião rompia a serra do Mar e eu já não olhava para nada, tomada pelo pânico de ter vivido apenas o sonho de  uma noite de verão. Mas, aí, me lembrava daquela tarde em que ele me seqüestrou para um passeio de jet-ski e foi se distanciando de todos, da lancha, dos convidados, até que a gente aportou numa praia  deserta e ele, depois de me roubar um beijo, avançou:
- Tem duas coisas que eu ainda quero na vida. Uma  delas é fazer amor na praia. A outra... (pensei assim: correr na Ferrari, ser dono de uma escuderia, morar em Portugal) ...a outra - continuou ele - é fazer amor na praia  com você.
Não rolou naquele dia. Mas, se eram as duas coisas que queria mesmo fazer na vida, nós as realizamos juntos.
Não me arrependo de nada que fiz. Arrependo-me de coisas que não fiz. Como não ter me jogado ao pescoço dele, depois da primeira madrugada de amor, cobrir seu rosto de beijos e dizer, com todas as letras, o que se passava no meu coração:

- Você me acendeu. Você é o homem da minha vida. Por pudor, por medo do ridículo, receosa de desmoronar o encanto, eu me contive. Mas nem preciso dizer como São Paulo e o trabalho me encontraram. A cabeça era uma massaroca. "Se eu pudesse voltar atrás, não faria de novo" - era a culpa que chegava. "Foi lindo, por que me culpar?" - eu me absolvia no tribunal de minha consciência.

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