sexta-feira, 7 de junho de 2013

CAMINHO DAS BORBOLETAS - Ayrton Senna discuti com fotografo por causa da história de gravidez de Marcella Prado



Meia dúzia de espectadores, no Cal Center - maravilha para um filme a dois. A saída, esperava por nós o inferno. Ayrton é dono de uma paciência oriental para com os fãs mais ansiosos. Mas não tolera o jeitão trêfego e insolente de uma certa imprensa. Fomos, de repente, sitiados. Ouvimos o primeiro clique - e ele segurou com força minha mão. Outro flash. Ele quis dialogar:
- Olha, eu vim aqui em busca de tranqüilidade. Podemos ir todos embora agora, não podemos?
Enquanto ele argumentava, novo flash. E a perigosa aproximação de um rapazinho, de bloco e Bic na mão, trazendo na ponta da língua aquele veneno que só as cascavéis e alguns jornalistas conseguem destilar:
- Essa história da gravidez da Marcella Prado... Afinal, a filha é sua ou não é?
Tipo da pergunta elegante para um sujeito que tinha uma namorada ao lado. Pela primeira vez, pressenti que ele ia dar vazão ao seu pedaço Incrível Hulk:
- Pergunte ao seu pai. - E, antes que o repórter puxasse o argumento "é meu trabalho", já levou um safanão que o derrubou. Ao fotógrafo, ele lascou um tapa na orelha que até hoje deve lhe soar como um telefone ocupado. Arrancou-lhe a máquina e a arremessou contra o vidro do cinema. Juntou gente e eu não sabia o que fazer. Segurei-lhe na mão, gelada, que tremia, e tentei arrastá-lo. Mas ele estava transtornado. Voltou atrás sobre seus passos:
- Me dá o filme.
Fotógrafo e repórter gaguejavam. Passaram-lhe um rolo, que ele puxou e expôs à claridade. Arremessou contra uma cesta de lixo. Caminhamos para a porta e ele ameaçou voltar:
- Cachorro! Tenho certeza de que o filme é outro. Era outro.
Um homem capaz de percorrer uma pista tortuosa a 350 quilômetros por hora caminhou até o carro com o rosto respingado de lágrimas, e ele chorava, chorava, até seu apartamento - chorava de raiva, chorava pela impossibilidade de ser um mero mortal como os outros, chorava com a indelicadeza daqueles que fazem de uma profissão bonita um ofício de abutres, chorava por ser indefeso, chorava por me expor, chorava pelo controle perdido, arrependido de entrar no jogo dos achacadores de novidades. Mais de uma vez eu o vi chorar. Nunca de medo. Sempre de raiva. Ele se metia nas brigas e, depois, se envergonhava. Mas, num mundo de má-fé, a lei dos punhos acaba tendo de se impor, às vezes. Chorei com ele. Percebi, ali, que já vivia plenamente a vida dele.


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