Fiquei de castigo no avião, na escala em Miami. Mas a
chegada me impressionou. Bahamas é um lugar lindo, de águas cristalinas,
pessoas charmosíssimas, hotéis deslumbrantes, como o Cristal Palace, em que nos
hospedamos, e restaurantes divinos, como o Piccadilly, que virou nosso point.
Mas estávamos ali a trabalho, não a passeio - e trabalho que exigia a mais
infinita paciência. Subíamos num veleiro e saímos sacudindo pelo mar. Eu,
escolada, prevendo o inevitável enjôo, sabia do truque de pregar um esparadrapo especial
atrás da orelha. Mas faltava vento e passávamos horas à deriva. Não posso,
porém, me queixar do resultado - o filme saiu deslumbrante.
Difícil foi, no domingo, descobrir uma televisão nas Bahamas
que pegasse a corrida de Fórmula 1,
a segunda da temporada européia - GP de San Marino, em Ímola
(ah, a dor que esse nome me traz hoje, a vontade de riscá-lo do meu mapa). Nas
Bahamas, só se quer saber de Fórmula Indy. Depois de muito peregrinar,
instalei-me diante de uma parabólica, com a Piera e a Juliana Soares - que
ficavam me atazanando:
- Tãtãtã... (O fundo musical da Globo.)
Ele não terminou a prova, como não terminaria a do ano
seguinte. Até então, as nossas conversas sobre automobilismo eram igual a zero.
Mas eu podia sentir o que ele sentia. Disposta a lhe dar um consolo,
liguei para a secretária dele, em São Paulo, e avisei que queria falar com ele.
Era uma hora da manhã quando o telefone tocou. A Piera, que dormia comigo no
quarto, atendeu:
- Alfredo? É você, Alfredo?
Pela resposta, ela deu um pulo da cama:
- Ah, desculpa. É você, Ayrton?
E me passou o telefone:
- Mas que diabo de Alfredo é esse? - ele queria saber,
com aquele tom brincalhão de quem esconde um ciumezinho.
- Alfredo? É o caseiro da Piera. Ela está esperando uma
chamada.
Falamos uma hora e meia. Não disse uma palavra sobre a
prova. Disse mil palavras sobre saudade, pressa de voltar, planos de me
encontrar. Imaginem: eu estava num paraíso mas só pensava no meu amor. Vontade
de voltar rápido, rápido. E, de fato, dois dias depois nos encontramos no
apartamento dele, da Paraguai, dispostos a recuperar o tempo perdido naquela
semana de separação. Estávamos em clima total de namorados e, para isso, nada
melhor do que o escurinho de um cinema. Ele escolheu: Dustin Hoffman, paixão
total do meu moço. Filme: Herói por Acidente.
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