sexta-feira, 7 de junho de 2013

CAMINHO DAS BORBOLETAS - Adriane Galisteu viaja e fica morrendo de saudades de Ayrton Senna e ele dela




Fiquei de castigo no avião, na escala em Miami. Mas a chegada me impressionou. Bahamas é um lugar lindo, de águas cristalinas, pessoas charmosíssimas, hotéis deslumbrantes, como o Cristal Palace, em que nos hospedamos, e restaurantes divinos, como o Piccadilly, que virou nosso point. Mas estávamos ali a trabalho, não a passeio - e trabalho que exigia a mais infinita paciência. Subíamos num veleiro e saímos sacudindo pelo mar. Eu, escolada, prevendo o inevitável enjôo, sabia do truque de pregar um esparadrapo especial atrás da orelha. Mas faltava vento e passávamos horas à deriva. Não posso, porém, me queixar do resultado - o filme saiu deslumbrante.
Difícil foi, no domingo, descobrir uma televisão nas Bahamas que pegasse a corrida de Fórmula 1, a segunda da temporada européia - GP de San Marino, em Ímola (ah, a dor que esse nome me traz hoje, a vontade de riscá-lo do meu mapa). Nas Bahamas, só se quer saber de Fórmula Indy. Depois de muito peregrinar, instalei-me diante de uma parabólica, com a Piera e a Juliana Soares - que ficavam me atazanando:
- Tãtãtã... (O fundo musical da Globo.)
Ele não terminou a prova, como não terminaria a do ano seguinte. Até então, as nossas conversas sobre automobilismo eram igual a zero. Mas eu podia sentir o que ele  sentia. Disposta a lhe dar um consolo, liguei para a secretária dele, em São Paulo, e avisei que queria falar com ele. Era uma hora da manhã quando o telefone tocou. A Piera, que dormia comigo no quarto, atendeu:
- Alfredo? É você, Alfredo?
Pela resposta, ela deu um pulo da cama:  
- Ah, desculpa. É você, Ayrton?
E me passou o telefone:
- Mas que diabo de Alfredo é esse? - ele queria  saber, com aquele tom brincalhão de quem esconde um  ciumezinho.
- Alfredo? É o caseiro da Piera. Ela está esperando uma chamada.
Falamos uma hora e meia. Não disse uma palavra sobre a prova. Disse mil palavras sobre saudade, pressa de voltar, planos de me encontrar. Imaginem: eu estava num paraíso mas só pensava no meu amor. Vontade de  voltar rápido, rápido. E, de fato, dois dias depois nos encontramos no apartamento dele, da Paraguai, dispostos a recuperar o tempo perdido naquela semana de separação. Estávamos em clima total de namorados e, para isso,  nada melhor do que o escurinho de um cinema. Ele escolheu: Dustin Hoffman, paixão total do meu moço. Filme:  Herói por Acidente.


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