Em 1º de Maio de 1994 o
Brasil perdia seu ídolo maior no automobilismo. Neste 1º de maio de 2003,
completamos 9 anos sem a sua presença vitoriosa, seja nas pistas ou
simplesmente como ser humano. Para homenageá-lo nesta data, o Envenenado
reproduziu uma declaração dada por seu pai, em uma edição especial da revista
Quatro Rodas, veículada em maio de 1995, ou seja, por ocasião do primeiro
aniversário de sua morte. Confira a íntegra do depoimento que relata a sua
iniciação no mundo dos automóveis.
Depoimento de Milton Guirado Theodoro da Silva - pai de Ayrton Senna da Silva
Sempre gostei de
automobilismo. Como o Ayrton era fanático por karts, resolvi me transformar em
pai-projetista e construi um para ele. Um brinquedo que, com o passar dos anos,
acabaria sendo o lado mais sério da vida dele. Na época, eu tinha a Metalúrgica
Universal, no bairro do Tremembé, em São Paulo. Improvisei o projeto com base
nos que eu via em fotos, porque jamais tinha tido um kart nas mãos. O trabalho,
totalmente artesanal, levou seis meses, peça por peça, uma eternidade para o
Ayrton, que estava contando os dias, ansioso para ter o carrinho.
Os freios já eram a disco,
mas o motor foi adaptado de uma máquina de cortar grama de 3 cvs. Era normal,
portanto, que o kart tivesse pequenos problemas técnicos. Ficou um pouco alto
do chão, o banco tinha inclinação limitada e a relação entre o motor e a
cremalheira ficou longa. Em conseqüência, havia pouca força na arrancada, mas
chegava a 60 km/h
de velocidade final. Mesmo assim, a gente se preocupava, pois apesar de só ter
4 anos, ele acelerava no limite. Um justificado medo paterno, porque ele
pilotou aquele kartinho dos 4 aos 9 anos, sem nenhum problema.
Nos preocupávamos em levá-lo
para lugares sem trânsito nem circulação, como num antigo loteamento na saída
da rodovia Fernão Dias. E como o Ayrton tinha uma porção de amigos, eu juntava
a molecada, colocava os karts num caminhão e supervisionava a brincadeira nos
finais de semana. Aos 9 anos, comprei um kart oficial da Mini, a marca do Mário
Carvalho. Ainda me lembro que era muito bonito e fora feito para o Emerson
Fittipaldi, já com freios dianteiros e muito aerodinâmico.
Na época, estava sendo feita
a Marginal do Tietê e era lá, nos trechos pavimentados ainda fechados ao
trânsito, que ele treinava. Quando fez 13 anos, chegou a hora de levá-lo para
competir na categoria de estreantes e novatos. Aniversariou em 21 de março e em
julho já participou do Torneio de Inverno, em Interlagos. Ganhou as duas provas
e o torneio de estréia.
A bandeirada foi dada pelo
Tchê, o técnico que preparou os seus motores enquanto ele competiu no kart
brasileiro. Foi a primeira vitória oficial, mas antes disso, ainda aos 9 anos,
o Ayrton competiu numa prova amistosa de rua, em Campinas. Não esqueci que fui
eu e não ele, que tremeu naquele dia. Me assustei quando vi mais de trinta
kartistas, todos mais velhos. As posições de largada foram definidas por
sorteio, cabendo ao Ayrton o número 1. Fiz de tudo para ele não entrar na
pista. Retirei a inscrição e guardei o kart. A insistência foi tamanha que
acabei concordando, mas como uma exigência: Não na pole position, e sim em
último.
Também perdi essa parada.
Bom... pensei, seja o que Deus quiser. Eram quarenta voltas. Ele largou na
frente e foi mantendo a liderança enquantou eu, nervoso, torcia para a corrida
terminar. Já estava na 35ª volta e os demais pilotos aumentavam a pressão, mas
ele nem tomava conhecimento, seguia firme, fazendo tomadas, fechando a porta e
me fazendo sofrer. De repente, num trecho complicado, ouvi um estrondo, vi a
poeira levantar e ele sumir. Sai correndo para o local, pensando: mataram o
moleque. Mas foi só um susto. Quando cheguei na curva ele já estava de pé,
sacudindo a poeira.
Como o Ayrton continuava
fanático por tudo o que tinha motor, resolvi montar uma oficina completa na
minha casa. Foi ali que ele aprendeu a tornear, a inventar mil e uma no seu
kart. Varava o dia inteiro e, se deixasse, a noite, montando e desmontando os seus
karts. Era difícil fazê-lo desligar da graxa e mandá-lo para a cama antes da
meia-noite. Eu, como já disse, gostava muito de automobilismo e ele era muito
bom nessa arte. Acho que por isso havia uma grande motivação recíproca. Mas
havia uma filosofia nesse brinquedo: a de que ele extravasasse toda a sua
energia de jovem no kart e não em outras coisas. Outro local que o Ayrton
adorava era a fazendo que nós tínhamos em Goiás. Pequeno ainda, aos 7 anos,
adonou-se do jipe que tinha lá.
Mal alcançava os pés nos
pedais, mas passava o dia inteiro levando os vaqueiros para todos os cantos da
fazenda. Ele aprendia muito rapidamente porque tinha a escola do kart. E o
menino que inicia no kart leva uma grande vantagem, pois vai cuidar do físico,
abster-se de beber, fumar e passar a dormir mais cedo. Enfim, vai seguir a
filosofia da preparação para competir num esporte muito exigente. E se
transformar em um indivíduo capaz de fazer cavalo-de-pau, se necessário, mas
habilitado para evitar um acidente. O Ayrton Sempre encarnou essa filosofia.
Levou muito a sério a pilotagem, fez dela sua profissão de corpo e alma. Por
isso é o tricampeão que todo o mundo elogia.
FONTE PESQUISADA
O começo de tudo!. Disponível em: <http://www.envenenado.com.br/ayrton/inicio/inicio.html>.
Acesso em: 02 de dezembro 2013.
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