domingo, 8 de dezembro de 2013

Porque "Caminho das Borboletas"? Entenda Porque Adriane Galisteu Deu Esse Título a Seu Livro





No final do livro tem a explicação:

Na fazenda, passei a ter medo das noites e dos sonhos. Trouxe minha mãe para perto de mim. Queria que ela ficasse acordada a meu lado, vendo um vídeo atrás do outro, até que as minhas forças cedessem. De dia, voltei a correr. Quarenta e cinco minutos. Falava em voz alta, enquanto  corria:
- Tá vendo? Fica aqui do meu lado. Era isso que eu queria mostrar para você: que podia correr com você...  Descobri um caminho que eu chamava de trilha das borboletas. Antes de ir embora, Braga fez um giro por toda a fazenda comigo e fiquei deslumbrada com aquele lugar, perto de uma cachoeira, muitas árvores serpenteando por  um caminho natural e uma quantidade incrível de borboletas, de todas as cores, de todos os tamanhos, de desenhos diferentes, tantas que você corria e elas vinham de encontro a você. No caminho das borboletas tinha uma pedra.
Grande e lisa. Não sei por que a escolhi entre tantos lugares tão bonitos da fazenda, mas era passar ali e me vinha à cabeça aquela idéia do reencontro: "Béco, você podia vir me ver um dia, aparecer por aqui".
Outra coincidência dava relevo àquela pedra. Toda vez  que eu entrava no carro, para uma volta em Campinas ou nas redondezas, tinha alguns CDs à mão. Simone, Phil Collins. Também deles eu tinha pânico - com certeza, iam me remeter para algumas situações muito especiais passadas com ele. Mas tinha um Milton Nascimento, velhíssimo, ou tipo os melhores momentos, não sei - só sei que era Milton direto, Milton, não, só aquela música dele, muito antiga, que me disseram chamar Travessia, que dizia coisas como "solto a voz nas estradas, eu não posso parar; meu caminho é de pedra..." Outro trecho impressionante: "Eu não quero mais a morte". Como aquilo me tocava. Não querer a morte era manter a memória dele viva - foi nesse exato momento que eu decidi deixar para a posteridade  as coisas que eu conto agora.
No dia da despedida da Guariroba, antes de seguir para o Rio e, depois, para Lisboa, voltei lá na pedra. Eram cinco da tarde, mais ou menos, de um dia muito frio; o sol já quase não se manifestava e eu quis passear, dar um adeus àquele lugar que tinha me dado um abrigo tão reconfortante. Com minha Bíblia na mão, me encaminhei quase automaticamente em direção à pedra. Abri o livro sagrado para ler, mas o fechei. Por mais de uma hora, eu falei. Sem parar, em voz alta - a minha própria e desesperada oração. Pedia para sair dali purificada de corpo e alma. Deixar para trás as mágoas, os maus sentimentos, revolta, dor, decepção, injustiça. Que a tempestade  me fortalecesse. Aí, sim, abri a Bíblia. Por acaso, juro, no Salmo do Perdão.
Béco não apareceu naquela pedra. Mas, não sei por quê, eu o sentia perto, muito perto. Continua pertinho, aqui, do meu lado. E do lado de todos os que o amaram verdadeiramente.
FIM 




FONTE PESQUISADA

GALISTEU, Adriane. Caminho das Borboletas. Edição 1. São Paulo: Editora Caras S.A., novembro de 1994. 

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