No dia que marca os 20 anos da morte de
Ayrton Senna, o Brasil e o mundo reverenciam sua carreira
POR ALLAN CALDAS / CLAUDIO NOGUEIRA
O Globo
http://oglobo.globo.com/
30/04/2014 23:50
Mito. Ayrton Senna faz sinal de positivo, ao
comemorar em Mônaco uma de suas seis vitórias naquele histórico circuito - Gilbert Tourte/AP/31-05-1992
E se Pelé tivesse sofrido uma
contusão que lhe abreviasse a carreira no início da sua 11ª temporada como
jogador, em 1966? Teria recebido todo reconhecimento que merecia mesmo tendo
vencido duas Copas do Mundo, uma delas praticamente sem jogar, e com pouco
mais da metade dos quase 1.300 gols que marcou? E se Muhammad Ali tivesse
aceitado a convocação para lutar na Guerra do Vietnã, e voltado de lá mutilado
ou morto, como milhões de outros jovens americanos, o mundo teria reconhecido
sua importância para o esporte, com apenas um dos três títulos mundiais dos
pesos-pesados que conquistou?
Ao contrário de outros
grandes gênios do esporte, Ayrton Senna teve a trajetória interrompida na
plenitude da carreira, na batida fatal na Curva Tamburello, em Ímola, no GP de San
Marino, há 20 anos. No dia 1º de maio de 1994, a tragédia privou o
mundo de saber até onde o piloto poderia ter ido. Mas as dez temporadas na F-1
— três títulos, 41 vitórias, 65 poles e corridas inesquecíveis — lhe garantiram
um lugar no olimpo do esporte.
Senna e o austríaco Roland
Ratzenberger, que morrera no treino do dia 30 de abril, foram as duas últimas
vítimas fatais na F-1. Hoje, há em Ímola um memorial que os homenageia. Para o
chefe da McLaren, Ron Dennis, a morte eternizou Senna.
— Ele foi tão bom no período
em que esteve neste planeta. Muitos ficam tempo demais no esporte, e mancham
sua grandeza. Foi tão inacreditavelmente competitivo e, de repente, já não
estava mais aqui. Poderia ter feito outras coisas, mas teve fim abrupto, e o
que lembramos é da sua grandeza — disse Dennis, certo de que o acidente foi
causado por problema na estrutura do carro.
Ao festejar 50 anos, em 2013, a McLaren publicou no
site que o brasileiro foi o maior de sua história, com os títulos em 1988, 1990
e 1991, tendo pilotado pela escuderia de 1988 a 1993. Ligado à McLaren, pela qual
ganhou, em 1974, seu segundo mundial (o primeiro pela Lotus, em 1972), o
ex-piloto brasileiro Emerson Fittipaldi é outro a ter ótimas lembranças do
tricampeão:
— Senna é ídolo global, não
só do Brasil.
Mito do esporte e da sociedade
Como Fittipaldi observou,
Senna influenciou garotos, como Lewis Hamilton, campeão mundial de 2008, ainda
pela McLaren. Em 1994, com 9 anos, ao saber da tragédia, chorou. O inglês da
Mercedes é reconhecido pela agressividade e pelo capacete amarelo, que lembram
o ídolo.
— Eu tinha todos os livros,
todos os vídeos... Ele me inspirou a ser piloto — comentou Hamilton. — Ele é
uma incrível lenda. Ainda posso aprender como planejava a corrida e como
pilotava. E pensar que um dia posso vir a ser reconhecido como alguém capaz de
pilotar de forma semelhante.
Ontem, o presidente da
Ferrari, Luca di Montezemolo, disse que Senna, se não tivesse morrido, teria
encerrado sua carreira naquela equipe. Também da escuderia italiana, Fernando Alonso,
bicampeão em 2005 e 2006, é fã do brasileiro:
— Era o piloto que eu mais
gostava, meu ídolo, e será para sempre o melhor do mundo.
Profissionais da Rede Globo,
Galvão Bueno e Reginaldo Leme cobrem a F-1 há 40 anos. Leme, que estava em
Ímola em 1994, lembra que, após o GP, ele e o operador de áudio, Cláudio
Amaral, continuaram na cabine, fazendo flashes sobre a saúde do piloto,
enquanto o repórter Roberto Cabrini foi para o hospital, em Bolonha.
— Eram 21h lá quando fomos
para o hotel. Nisso, Pedro Bial e o cinegrafista Sérgio Gils chegaram de
Londres. De Bolonha, eu e Bial entramos no Fantástico, até 4h lá — relembrou
Leme.
Dono da voz que narrou as
vitórias de Senna, Galvão Bueno foi um grande amigo do piloto.
— Era incrível, fantástico!
Um profissional intenso, detalhista. Eu me sentia genuinamente emocionado com
aquelas vitórias, que alegravam os domingos brasileiros. Foram 41 vitórias, 41
vezes chamando o Tema da Vitória. ‘Ayrton, Ayrton, Ayrton Senna do Brasil’.
Sempre tive a certeza de que ele era um grande ídolo — disse Galvão.
— É o melhor de todos. Os outros, por idade: Niki Lauda, Nelson Piquet, Alain
Prost e Michael Schumacher.
Senna era admirado no
futebol, como recorda Raí, campeão mundial de 1994. A 20 de abril de
1994, no 0 a
0 entre o Brasil e Paris Saint-Germain/Bordeaux, Senna deu o pontapé
inicial.
— Apesar da rivalidade com o
Prost, estava tranquilo e parecia saber que era idolatrado pela torcida
francesa, como é até hoje. É um mito do esporte.
Já Maurício Murad, professor
de Sociologia do Esporte da Universidade Salgado de Oliveira, a Universo,
explica o amor a Senna:
— A sociedade cria ídolos da
música, cinema e esporte. Senna é mais que um piloto vitorioso. É ícone, herói
coletivo e ídolo. A sociedade projeta em alguém os exemplos positivos.
FONTE PESQUISADA
CALDAS, Allan; NOGUEIRA, Claudio. Lembranças
vivas de um tricampeão. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/esportes/lembrancas-vivas-de-um-tricampeao-12351677#ixzz34G670cKp>.
Acesso em: 10 de junho 2014.
FOTOS AYRTON SENNA NA F1 - MCLAREN - CAMPEÃO - CHAMPION - DRIVEN
FOTOS AYRTON SENNA NA F1 - MCLAREN - CAMPEÃO - CHAMPION - DRIVEN
Nenhum comentário:
Postar um comentário