terça-feira, 10 de junho de 2014

Lembranças Vivas de um Tricampeão

No dia que marca os 20 anos da morte de Ayrton Senna, o Brasil e o mundo reverenciam sua carreira

POR ALLAN CALDAS / CLAUDIO NOGUEIRA

O Globo

http://oglobo.globo.com/

30/04/2014 23:50

Mito. Ayrton Senna faz sinal de positivo, ao comemorar em Mônaco uma de suas seis vitórias naquele histórico circuito - Gilbert Tourte/AP/31-05-1992


E se Pelé tivesse sofrido uma contusão que lhe abreviasse a carreira no início da sua 11ª temporada como jogador, em 1966? Teria recebido todo reconhecimento que merecia mesmo tendo vencido duas Copas do Mundo, uma delas praticamente sem jogar, e com pouco mais da metade dos quase 1.300 gols que marcou? E se Muhammad Ali tivesse aceitado a convocação para lutar na Guerra do Vietnã, e voltado de lá mutilado ou morto, como milhões de outros jovens americanos, o mundo teria reconhecido sua importância para o esporte, com apenas um dos três títulos mundiais dos pesos-pesados que conquistou?

Ao contrário de outros grandes gênios do esporte, Ayrton Senna teve a trajetória interrompida na plenitude da carreira, na batida fatal na Curva Tamburello, em Ímola, no GP de San Marino, há 20 anos. No dia 1º de maio de 1994, a tragédia privou o mundo de saber até onde o piloto poderia ter ido. Mas as dez temporadas na F-1 — três títulos, 41 vitórias, 65 poles e corridas inesquecíveis — lhe garantiram um lugar no olimpo do esporte.


Senna e o austríaco Roland Ratzenberger, que morrera no treino do dia 30 de abril, foram as duas últimas vítimas fatais na F-1. Hoje, há em Ímola um memorial que os homenageia. Para o chefe da McLaren, Ron Dennis, a morte eternizou Senna.

— Ele foi tão bom no período em que esteve neste planeta. Muitos ficam tempo demais no esporte, e mancham sua grandeza. Foi tão inacreditavelmente competitivo e, de repente, já não estava mais aqui. Poderia ter feito outras coisas, mas teve fim abrupto, e o que lembramos é da sua grandeza — disse Dennis, certo de que o acidente foi causado por problema na estrutura do carro.

Ao festejar 50 anos, em 2013, a McLaren publicou no site que o brasileiro foi o maior de sua história, com os títulos em 1988, 1990 e 1991, tendo pilotado pela escuderia de 1988 a 1993. Ligado à McLaren, pela qual ganhou, em 1974, seu segundo mundial (o primeiro pela Lotus, em 1972), o ex-piloto brasileiro Emerson Fittipaldi é outro a ter ótimas lembranças do tricampeão:

— Senna é ídolo global, não só do Brasil.

Mito do esporte e da sociedade

Como Fittipaldi observou, Senna influenciou garotos, como Lewis Hamilton, campeão mundial de 2008, ainda pela McLaren. Em 1994, com 9 anos, ao saber da tragédia, chorou. O inglês da Mercedes é reconhecido pela agressividade e pelo capacete amarelo, que lembram o ídolo.

— Eu tinha todos os livros, todos os vídeos... Ele me inspirou a ser piloto — comentou Hamilton. — Ele é uma incrível lenda. Ainda posso aprender como planejava a corrida e como pilotava. E pensar que um dia posso vir a ser reconhecido como alguém capaz de pilotar de forma semelhante.

Ontem, o presidente da Ferrari, Luca di Montezemolo, disse que Senna, se não tivesse morrido, teria encerrado sua carreira naquela equipe. Também da escuderia italiana, Fernando Alonso, bicampeão em 2005 e 2006, é fã do brasileiro:

— Era o piloto que eu mais gostava, meu ídolo, e será para sempre o melhor do mundo.

Profissionais da Rede Globo, Galvão Bueno e Reginaldo Leme cobrem a F-1 há 40 anos. Leme, que estava em Ímola em 1994, lembra que, após o GP, ele e o operador de áudio, Cláudio Amaral, continuaram na cabine, fazendo flashes sobre a saúde do piloto, enquanto o repórter Roberto Cabrini foi para o hospital, em Bolonha.

— Eram 21h lá quando fomos para o hotel. Nisso, Pedro Bial e o cinegrafista Sérgio Gils chegaram de Londres. De Bolonha, eu e Bial entramos no Fantástico, até 4h lá — relembrou Leme.

Dono da voz que narrou as vitórias de Senna, Galvão Bueno foi um grande amigo do piloto.

— Era incrível, fantástico! Um profissional intenso, detalhista. Eu me sentia genuinamente emocionado com aquelas vitórias, que alegravam os domingos brasileiros. Foram 41 vitórias, 41 vezes chamando o Tema da Vitória. ‘Ayrton, Ayrton, Ayrton Senna do Brasil’. Sempre tive a certeza de que ele era um grande ídolo — disse Galvão. — É o melhor de todos. Os outros, por idade: Niki Lauda, Nelson Piquet, Alain Prost e Michael Schumacher.

Senna era admirado no futebol, como recorda Raí, campeão mundial de 1994. A 20 de abril de 1994, no 0 a 0 entre o Brasil e Paris Saint-Germain/Bordeaux, Senna deu o pontapé inicial.

— Apesar da rivalidade com o Prost, estava tranquilo e parecia saber que era idolatrado pela torcida francesa, como é até hoje. É um mito do esporte.

Já Maurício Murad, professor de Sociologia do Esporte da Universidade Salgado de Oliveira, a Universo, explica o amor a Senna:


— A sociedade cria ídolos da música, cinema e esporte. Senna é mais que um piloto vitorioso. É ícone, herói coletivo e ídolo. A sociedade projeta em alguém os exemplos positivos.





FONTE PESQUISADA

CALDAS, Allan; NOGUEIRA, Claudio. Lembranças vivas de um tricampeão. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/esportes/lembrancas-vivas-de-um-tricampeao-12351677#ixzz34G670cKp>. Acesso em: 10 de junho 2014.


FOTOS AYRTON SENNA NA F1 - MCLAREN - CAMPEÃO - CHAMPION - DRIVEN





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