13 de agosto de 2025 - Kevin Jones
Em seu relato especial em primeira pessoa, o ex-relações públicas do MG Rover Group, Kevin Jones, relembra um dia verdadeiramente inesquecível em 1986.
É a história de como um teste de revista nas colinas galesas se transformou em um assento na primeira fila ao lado da lenda da F1 Ayrton Senna em um MG Metro 6R4 — e o momento em que ele se viu ultrapassando a lenda da F1... duas vezes.
Provavelmente, o passeio de carona mais “Sennsacional” de todos os tempos
Ayrton Senna e Kevin Jones
Comecei minha carreira seguindo meus sonhos de entrar para a indústria automobilística, ajudado por ter vencido, em setembro de 1971, o concurso da Kellogg’s ‘Design a Car of the Future’ (“Projete o Carro do Futuro”) aos nove anos de idade. Em 1978, iniciei um programa de quatro anos como um dos últimos aprendizes da Triumph, parte do então JRT (Jaguar Rover Triumph), localizado em Coventry. Tive a sorte de ser aprovado na minha primeira entrevista interna e consegui um cargo administrativo na Press Car Garage (Garagem de Carros de Imprensa) da empresa, onde trabalhei arduamente pelos cinco anos seguintes, até ingressar na área de Relações Públicas da empresa no Reino Unido.
Enquanto fazia o programa de aprendiz, em 1980, participei de um evento público de pista da Austin Rover chamado “Move over to Austin Rover” (“Mude-se para Austin Rover”) em Donington Park. Me vi no banco do passageiro de um Rover SD1 V8, e perguntei ao motorista, enquanto rodávamos em alta velocidade: “Como você consegue fazer isso?”. Ele respondeu simplesmente: “Você trabalha duro no dia a dia e se encontra no lugar certo, na hora certa.”
Incrivelmente, poucos anos depois, em julho de 1983, eu estava de volta a Donington Park, desta vez dirigindo um Rover (SD1) Vitesse! Depois de algumas voltas na pista, percebi que precisava aumentar a pressão dos pneus Pirelli P6 (excelentes para cantadas de pneu, mas que precisavam de mais pressão para pista), então fui para os boxes. A primeira pessoa que se ofereceu para ajudar foi ninguém menos que Frank Williams, que alegremente se dispôs a calibrar os pneus.
Da Press Garage (Garagem de Imprensa) a Frank Williams e Ayrton Senna
Frank estava lá naquele dia em parte por causa da associação da empresa com o desenvolvimento secreto de um carro de rali — daí os logotipos da Austin Rover perto da entrada de ar dos carros de F1 — mas, principalmente, porque foi o primeiro teste de Fórmula 1 (83 voltas) de Ayrton Senna, então com 23 anos, no Williams FW08 com motor Cosworth de Keke Rosberg. Senna estava a caminho de conquistar o que, na época, seria um recorde de vitórias no Campeonato Britânico de Fórmula 3.
Enquanto trabalhava na Press Garage e registrava um grande número de carros da frota Montego, notei que determinada placa de registro (número de registro) ficaria perfeita no carro de demonstração da imprensa MG Metro 6R4 que acabara de chegar: C64 WDU — especialmente porque o nome “6R4” vinha do motor V6 de seis cilindros em um Metro personalizado, adaptado para rali e com tração nas quatro rodas. Mandei fazer placas especiais para ele até que ficou óbvio que a dianteira teria de ser um decalque (adesivo) por causa da curvatura do capô — por isso ainda guardo a placa dianteira original, nunca usada!
Imaginem minha empolgação em setembro de 1986, quando, poucos dias depois de assumir o cargo de Relações Públicas como Assessor de Imprensa de Produto e Técnica da Rover Cars (que incluía MG e Mini), fui designado para levar (ou acompanhar) o carro de imprensa MG Metro 6R4 a um dia de testes para revista no interior do País de Gales. Em mais um golpe de sorte e coincidência, um dos veículos que por acaso estava disponível para minha viagem ao País de Gales era um Rover SD1 Vitesse V8 de 3.5 litros (placa C87 URW, cor Moonraker Blue), anteriormente o carro da empresa de Frank Williams — cedido como parte de sua associação com o desenvolvimento do MG Metro 6R4), então meu dia já prometia ser rápido e memorável.
A primeira experiência de Senna em uma etapa de rali
A revista Car & Car Conversions (CCC) e seu criativo editor, Russell Bulgin, organizaram para seu amigo, Ayrton Senna, sua primeira experiência em um carro de rali e abordaram vários fabricantes do Grupo B (Austin Rover, Ford, Lancia, Peugeot, etc.) — afinal, 1986 foi o auge do Grupo B, e ocorreu logo antes da categoria mais selvagem do rali ser tristemente interrompida.
O piloto de F1 mais rápido do mundo queria dirigir os carros de rali mais rápidos do mundo e, embora a programação incluísse um Ford RS200, Lancia Delta S4, MG Metro 6R4 e Peugeot 205 T16, no último minuto três dos quatro fabricantes cancelaram, restou a Austin Rover e quatro carros particulares, providenciados às pressas para compor a experiência progressiva, que acabou ficando mais próxima do perfil do público (dos leitores) da CCC.
Começamos cedo naquela manhã dirigindo o Rover Vitesse rumo ao País de Gales, foi tudo, menos um sacrifício. A chegada de Russell e Ayrton Senna — já então um piloto de ponta da Lotus, no então "modelo padrão" para pilotos de F1, o Mercedes SEC Coupé preto — foi um momento realmente emocionante para os presentes.
Dirigindo para as colinas galesas para uma ação de rali
Enquanto subíamos em comboio as colinas de Carno, a poucos quilômetros de Newtown, Powys, onde ficava a Welsh Forest Rally School de Jan Churchill, o percurso incluía atravessar riachos e subir cada vez mais alto, e a sensação era de que algo especial estava para acontecer. No topo da pista de rali na floresta (No topo da etapa de rali florestal), Ayrton foi apresentado a cinco carros para sua introdução ao rali: um Vauxhall Nova Sport, um Volkswagen Golf GTi de rali (com especificações de rali), um Escort 4WD com motor V8 3.4 litros caseiro, um Sierra RS Cosworth e o MG Metro 6R4 de 300 cv, carro de imprensa da Austin Rover com especificações Clubman.
Antes que os fiscais sinalizassem de que estavam prontos, começou a familiarização e a preparação progressiva de cada carro, e me vi sozinho conversando com Ayrton de homem para homem. Era como conversar com um irmão (não que eu tenha um) — sem preconceitos ou reservas, ele falava abertamente, muito envolvido com a perspectiva de pilotar aquela variedade de carros. Perguntei: “Você acha que será uma experiência muito diferente de pilotar em pista?” e ele respondeu: “Estou realmente ansioso por isso — Será bem diferente, andar de lado e me divertir muito. Vai ser ótimo de assistir.”
Ayrton pilotou cada carro enquanto Russell gravava as conversas. Ele gostava mais de cada carro subsequente do que do anterior, com o Sierra RS Cosworth proporcionando uma sensação particular de potência aprimorada devido ao seu motor turbo de 2.0 litros. Mas, quando chegou a hora de escolher quem iria com ele no 6R4, acabei, num gesto generoso, algo como um generoso "você vai primeiro", oferecendo o lugar ao meu colega mecânico Noel Holdback — e depois pensei (sem palavrões): por que eu fiz isso?!
Minha segunda chance de pedalar com Ayrton
Depois que todos os carros foram pilotados, os presentes olharam para Russell para perguntar o que aconteceria em seguida, visto que já era final de manhã e quase hora do almoço. Ayrton comentou que havia gostado especialmente do 6R4, principalmente porque o motor V6 aspirado oferecia um prazer mais puro, com comandos precisos e respostas rápidas, então perguntou se poderia pilotá-lo novamente.
Generoso eu podia ser, mas não bobo: saltei logo para o banco do passageiro antes que alguém tivesse a mesma ideia. Já preso ao cinto, ansioso pela experiência que viria, fomos para o início da etapa (pista), mas encontramos alguns fiscais indo para o intervalo do almoço. Em vez de sair do carro, nós dois ficamos sentados, amarrados, enquanto Russell e outros conversavam com Ayrton sobre seu primeiro dia pilotando carros de rali. Eu não conseguia acreditar que estava naquele lugar na primeira fila – só nós dois juntos no 6R4.
Com os comissários de volta aos seus lugares, o V64V aspirado ganhou vida (V64V naturalmente aspirado foi devidamente acionado). Com a adrenalina subindo, de repente, partimos em alta velocidade! No início, eu estava realmente ansioso e, ao sermos lançados rapidamente na primeira curva, olhei para Ayrton girando o volante — era como ver um mágico, fazendo malabarismos com o volante, fazendo ângulos precisos e com correções mínimas. O carro deslizava de traseira de forma controlada, fluindo pela curva na trajetória exata.
As curvas seguintes vieram de lado, com um precipício de um lado e um grande despenhadeiro até o rio do outro. Mas o que eu sentia era pura confiança: um gênio ao volante, aproveitando a velocidade sobre o terreno difícil. No retorno, já recuperado do susto inicial, encorajei: “Vai, Ayrton, manda ver!”, e ele aumentou o ritmo subindo de volta pelo estágio.
Uma masterclass (aula de mestre) lateral no palco da floresta
As curvas seguintes eram visíveis de ambos os lados do poste A, já que estávamos quase sempre de lado, mesmo com um precipício na encosta de um lado e uma grande queda invisível até o rio do outro, mas o efeito geral era de que um gênio da direção estava no controle – e ele estava curtindo a velocidade alcançada no terreno difícil. Quando chegou a hora da corrida de volta, e depois de recuperar o fôlego, me vi encorajando-o: "Vá em frente, Ayrton, vá em frente", enquanto ganhávamos velocidade e subíamos de volta o trecho de rali da floresta galesa.
Foi um passeio verdadeiramente emocionante e que quase me arrependi de ter dado a outro antes, fiquei feliz de viver. Foi maravilhoso compartilhar a experiência dele ajustando suas habilidades de direção para esta nova disciplina e aumentando sua confiança nesta situação de direção mais extrema (Ver Ayrton adaptando seu talento a essa nova disciplina e ganhando confiança foi incrível). Gosto de pensar que o que ele aprendeu naquele dia o ajudou nas condições chuvosas em sua lendária primeira volta do Grande Prêmio da Europa em Donington Park em 1993, quando ele teve sua vitória mais memorável na F1...
Com isso, as fotos estáticas tiradas, acabou. Todos se prepararam para voltar ao estacionamento da montagem, onde os reboques e veículos de apoio estavam esperando, mas quem iria dirigir o 6R4 de volta? Eu claramente ainda estava cheio de adrenalina e, embora eu só tivesse dado uma breve volta nele anteriormente, enquanto estava em Coventry, agora me encontrava ao volante do MG Metro 6R4!
Minha vez no volante
Finalmente, chegou a minha vez de dirigir o 6R4
Ligar o 6R4 parecia prender um foguete nas costas, com o motor a poucos centímetros de mim, cantando alto. Saí cauteloso, mas logo entendi o carro: comandos precisos recompensavam, mas tirar o pé do acelerador fazia a traseira balançar como um barco na crista de uma onda. Aprendi rápido que era preciso ser decidido: ou acelerar ou frear.
Com um motor de som impecável, tração nas quatro rodas e desempenho, vêm responsabilidades ainda maiores – e coragem! Tendo perdido uma oportunidade naquele dia, decidi ir atrás do ouro. Ligar o 6R4 foi como prender uma mochila a jato às costas, especialmente porque o motor estava a poucos centímetros de mim e em plena atividade.
Lá fui eu, cauteloso no início, mas rapidamente pegando o jeito [mas rapidamente me acostumei]. Comandos precisos traziam grandes recompensas, mas tirar o pé do acelerador fazia o carro escorregar de traseira, balançando como um navio levado pelo próprio embalo das ondas. Aprendi rápido que era preciso ser mais enérgico com ele e manter o foco: ou acelerava ou freava – sem rodeios – e peguei o jeito bem a tempo, pouco antes de me lançar na travessia do rio. Esperançoso de que conseguiria atravessar, apesar do para-choque dianteiro parecer um limpa-neve, tive a visão de que a cena teria sido bem dramática, com os jatos d’água subindo aos céus atrás de mim (como se eu estivesse no Rally RAC).
No trecho de asfalto das estradas secundárias galesas, um Land Rover lento me segurava [achei difícil conter o 6R4 atrás de um Land Rover mais lento à minha frente]. Então, corajosamente, mas com cuidado, voei para ultrapassá-lo. — e só então vi que era Russell ao volante, com Ayrton no banco do passageiro. Os papéis tinham se invertido! Nossa, aquele motor V64V cantava (rugia)!
Ao entrarmos no asfalto das estradas secundárias galesas, achei difícil conter o 6R4 atrás de um Land Rover mais lento à minha frente, então, corajosamente, mas com cuidado, voei para ultrapassá-lo. Percebi que era Russell ao volante e Ayrton no banco do passageiro – como os papéis agora estavam invertidos! Nossa, aquele motor V64V cantava!
Ultrapassando Ayrton Senna – e fazendo isso duas vezes
Uma gincana local no vale abaixo parecia fazer todos olharem para mim, enquanto as colinas ecoavam o som estrondoso — porém eficiente — do V6 ruidoso. Eu estava me divertindo tanto que perdi a curva à esquerda e tive que dar meia-volta — e adivinha só… ultrapassar o Land Rover novamente.
Quem você conhece que pode dizer que ultrapassou o Ayrton Senna não uma, mas duas vezes, hein?
Que dia longo e especial foi aquele, pensei, enquanto atravessava o País de Gales a toda velocidade em meu retorno para casa no apropriadamente chamado Rover Vitesse de Frank Williams — um verdadeiro viajante veloz, feito para devorar quilômetros.
Reencontro com o C64 WDU em Donington
Avançando para 2013, durante o 30º aniversário da vitória de Ayrton no Grande Prêmio da Europa em Donington Park – dado o acaso de estarmos no mesmo local, decidi descobrir onde estava o carro MG Metro 6R4. Descobri que ele estava “descansando” em Sheffield, então propriedade de Phil Lilley, no Distrito dos Lagos, e que estava à venda (o que facilitou a busca).
Consegui convencer Phil a levar o MG Metro 6R4 até Donington e, assim, reencontrei o C64 WDU mais uma vez – e você entenderá por que eu queria tanto sentar no banco do passageiro, para reviver minhas lembranças exatamente como eram. Desde então, ele foi vendido e, infelizmente, perdeu a pintura original de carro de imprensa da Austin Rover; agora está de volta à ativa nos ralis, proporcionando diversão a seus ocupantes e ao público.
Minha trajetória dedicada de RP continuou com muitos momentos memoráveis e notavelmente ótimos, mas todos eram comparados àquele passeio supremo [mas cada vez eles eram avaliados em relação à melhor corrida de todas]. Ayrton era verdadeiramente um piloto naturalmente talentoso, um piloto tranquilo (suave) em qualquer superfície e, sem dúvida, “um prazer de ver” [era incrível de assistir] – especialmente quando observado de perto, do banco do passageiro. Que experiência especial foi aquele dia [Que corrida especial foi aquele dia] – como nenhuma outra desde então!








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