Houve outra vez em que ele me mostrou um poema em forma de
oração, guardado, dobradinho, na sua carteira. Tinha o título Pegadas na Areia.
E tinha uma história. Contou que passava por um momento difícil da vida -
pessoal, emocional, profissional. Estava em Angra e saiu sozinho para correr
numa praia deserta, pilotando o helicóptero. Sozinho, não - a Quinda o
acompanhava. Desceram, ele calçou o tênis e foi correr. Quinda, discretíssima,
ficou sentada na areia, observando o mar. O silêncio era absoluto - ele só
ouvia os seus próprios passos no piso duro da praia. Foi correndo até o canto
da praia e voltou. Viu as marcas de seus pés na areia - nada mais do que
aquilo indicava a presença de algum tipo de vida naquela imensidão. Foi um
momento mágico - de revelação. Ele refletiu sobre sua solidão. Ela lhe doía no
peito, lhe parecia enorme. Mas, pensou, aquelas suas pegadas na praia eram uma
migalha na amplidão do universo. Ele se sentiu vivo, e minúsculo, diante do
mistério da criação. Levantou vôo no helicóptero e ficou sobrevoando a trilha
na areia.
Infinitas são as maneiras de Deus se revelar aos homens.
Para o Béco, bastaram umas marcas de areia, num dia de sol, na vasta solidão de
Angra dos Reis.
PEGADAS NA AREIA
Uma noite eu tive um sonho...
Sonhei que estava na praia com o Senhor e, através do céu,
passavam cenas da minha vida! Para cada cena que passava, percebi que eram
deixados dois pares de pegadas na areia.
Quando a última cena da minha vida passou diante de nós,
olhei para trás, para as pegadas na areia, e notei que, muitas vezes, no
caminho da minha vida, havia apenas um par de pegadas na areia. Notei, também,
que isso aconteceu nos momentos mais difíceis e angustiantes da minha vida.
Isso aborreceu-me, deveras. Perguntei, então, ao Senhor.
"Senhor, tu me disseste que, uma vez que eu resolvi te seguir,
tu andarias sempre comigo, todo o caminho, mas notei que, durante as
maiores tribulações do meu viver, havia, na areia dos caminhos da minha vida,
apenas um par de pegadas. Não compreendo por que, nas horas em que eu mais
precisava de ti, tu me deixaste ".
O Senhor me respondeu:
"Meu precioso filho: eu te amo e jamais te deixaria nas
horas de tua prova e do teu sofrimento! Quando viste na areia apenas um par de
pegadas, foi exatamente aí que eu te carreguei nos braços".
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