Não tinha a menor idéia do que vinha a ser diferencial e
achava que suspensão era quando o diretor da escola proibia um aluno mais
atrevidinho de assistir às aulas por alguns dias. Mas me importava saber
daquela adorável criança de 33 anos que, ao me ver levá-la até a escada
do avião, para a viagem até Donington, o GP da Inglaterra, a ser disputado no
domingo seguinte, ainda tinha olhos para meu vestido branco, de flores pretas:
- Nossa, como você está bonita! - ele me cortejou, antes do
beijo de despedida.
Eu não me ligava no ás das pistas - perdão, não tinha me
ligado até aquele dia. Pois, no domingo de Páscoa, 11 de abril, eis-me colada
na telinha, unindo minha torcida à da minha avó fanzoca, roendo as unhas,
chutando a mesinha de centro - e, depois, festejando aos berros, com o Brasil
inteiro, a vitória do meu Ayrton, depois de arriscadíssimas ultrapassagens na
chuva. Senti que era o Béco, no pódio, brincalhão como nunca, abraçando aquele
que eu descobri semanas depois ser o Jô Ramirez, chefe da escuderia McLaren,
dando um banho de champanhe no Giorgio Ascanelli, engenheiro-projetista, que
seria rival no ano seguinte mas não deixou de ser amigo até os últimos dias.
Cheguei a pensar, com egoísmo:
- Quem sabe eu não tenho a ver também com um pouco da
felicidade dele?
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